Por: Katia Muniz
O filme “Que horas ela volta?” já me rendeu uma crônica no ano passado. Desta vez, volto a ele para comentar sobre o diálogo em uma cena que acabou dividindo opiniões na mídia, mas achei encantadora: a do pedido de casamento. Em um determinado momento, o personagem diz: “… Às vezes a gente fala umas coisas que podem parecer loucuras, mas se eu não falo, talvez isso seja loucura…”.
Ele ressaltava a importância de articularmos o que realmente sentimos, pois não sabemos se teremos uma segunda chance.
Eu devo ter me remexido várias vezes na poltrona do cinema quando essa frase foi proferida.
Automaticamente, pensei nas pessoas que carregam amores que nunca foram declarados. E, por esse motivo, consequentemente, deixaram de formar os devidos casais.
Assim, há indivíduos que costumam arrastar ano após ano o que sentem, por não conseguirem verbalizar. Falta-lhes a coragem da exposição, enquanto impera o medo do ridículo, o pavor de errar a fala, o gaguejar em virtude do nervosismo, o constrangimento ao desnudar a alma e até de receber uma negativa, ouvindo do outro que a recíproca não é verdadeira.
Alma desnuda é alma vulnerável.
Todavia, desconheço algo mais belo do que o ser humano pronunciando, com todas as letras, os mais lindos sentimentos.
Que loucura gostosa é colocar para fora o que nos sufoca, o que nos acorrenta, o que nos prende ao chão. Que loucura magnífica é conseguir dar vazão às palavras certas que servirão para acariciar alguém. Que loucura sublime é dizer que sente falta, gosta, ama.
Eu me rendo aos loucos atrevidos que comunicam tudo com as faces ruborizadas. Esvaziam-se, despem-se, libertam-se.
Loucura mesmo é protelar, esconder, abafar, trancafiar, deixar para um amanhã que não se sabe ao certo se vai existir. Loucura é enganar-se, guardar tudo para si ou suportar o peso das emoções não reveladas.
Desperdiçar uma chance é extinguir a intensidade dos momentos. E isso não deixa de ser uma forma de óbito.