Ciência e Saúde

Pediatra e infectologista explica riscos e prevenção à Monkeypox com crianças

Marcio Nehab aponta primeiros sintomas da doença no público infantil

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O pediatra e infectologista do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Marcio Nehab, por meio dos canais da Fiocruz, divulgou informações sobre os riscos da Monkeypox (MPX) entre crianças. Apesar de homens adultos serem o principal grupo de afetados pela doença, o público infantil e pessoas com baixas defesas ou doenças crônicas, segundo a fundação, correm o risco maior de contágio, algo que inclusive foi informado pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, no final de julho. 

“Essa advertência sobre os grupos vulneráveis, junto com o anúncio dos primeiros casos da doença registrados em crianças (que já chega a mais de 80 em vários países do mundo segundo o Serviço de Informação das Nações Unidas em Genebra), faz com que o crescente surto da MPX levante preocupações sobre seu potencial de propagação em grupos inesperados. Foi isso o que levou a OMS a declarar o surto uma emergência de saúde pública de interesse internacional”, aponta a Fiocruz.

Segundo o pediatra e infectologista do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Marcio Nehab, há sinais e sintomas de monkeypox a serem notados entre crianças. “A Monkeypox deve ser considerada quando crianças ou adolescentes apresentam uma erupção cutânea que possa ser consistente com a doença, especialmente se houver critérios epidemiológicos presentes. Porém, a erupção da Monkeypox pode ser confundida com outras doenças exantemáticas (aquelas que apresentam erupções da pele e que podem estar associada a doenças infecciosas comuns em crianças), como: varicela; doença da mão, pé e boca; sarampo, molusco contagioso, catapora, sarna e erupções cutâneas alérgicas”, detalha. 

Os sintomas da doença, tanto entre adultos quanto crianças, são os mesmos, iniciando com febre, dores musculares, nas costas e de cabeça, passando para calafrios, linfonodos inchados, fadiga, seguidos de erupção cutânea. “Até três dias depois de ter febre, o paciente pode desenvolver uma erupção cutânea no rosto e no corpo que progride para lesões crostosas na pele. As lesões podem afetar a face, palmas e plantas dos pés, e todo o corpo, membranas mucosas e, genitália. Também podem se apresentar com lesões em diferentes estágios de desenvolvimento com manchas, bolhas e crostas no mesmo momento”, completa o médico.

Há também complicações raras advindas da MPX que incluem abscessos, bem como “obstrução das vias aéreas devido a linfadenopatia grave, celulite, encefalite, infecção secundária da pele, ceratite, pneumonia, sepse e doenças oculares que podem levar à perda de visão”, acrescenta.

Contágio entre crianças

De acordo com o pediatra, entre crianças, a Monkeypox é transmitida principalmente no contato pele a pele entre humanos, por forma prolongada e direta. “Embora a maioria dos casos até agora tenham sido associados à atividade sexual, a Monkeypox não é considerada uma infecção sexualmente transmissível. Assim, nas crianças, a enfermidade pode se espalhar por contato próximo com fluidos corporais de indivíduos infectados, como secreções respiratórias e por contato direto com lesões da pele e crostas. O contágio pode ser de pessoas ou animais, e também através de objetos contaminados (por hospedar um agente infeccioso que permite sua transmissão), por exemplo, pelas roupas, lençóis e toalhas”, completa Nehab.

“Portanto, as pessoas podem transmitir a monkeypox para crianças por meio de contato, como beijos e abraços. Com relação ao contágio, também é importante lembrar que, no caso da MPX, não há transmissão antes de surgirem os sintomas”, salienta o médico.

Incubação da doença e gravidade

De acordo com Marcio, no contexto atual é compreendido que o período de incubação da Monkeypox, ou seja, o tempo que a pessoa é infectada pela doença até apresentar sintomas, é de cerca de 12 dias, com possível intervalo de 5 a 24 dias. A erupção cutânea é apresentada de dois a quatro dias depois. “As pessoas com a doença podem transmiti-la enquanto apresentam sintomas, ou seja, entre as 2 e 4 semanas de duração. Recém-nascidos, crianças pequenas, crianças com eczema ou outras condições de pele, e crianças com condições que levem à imunodepressão podem estar em maior risco de doença grave”, alerta o infectologista e pediatra.

Tratamento

Segundo Nehab, nos casos de  suspeita ou confirmação da MPX entre crianças e adolescentes, bem como nos casos de risco de doença grave ou complicações devido à enfermidade, é indicado um tratamento específico caso a caso. “Tecovirimat é o medicamento antiviral de primeira linha para tratar a doença, inclusive em crianças e adolescentes. Por outro lado, crianças e adolescentes com exposição a pessoas com monkeypox suspeita ou confirmada podem ser elegíveis para Profilaxia Pós-Exposição (PEP) com vacinação, imunoglobulina ou medicação antiviral”, detalha.

“Só que, neste momento no Brasil, ainda não temos vacinas nem antivirais para profilaxia ou tratamento de infectados ou expostos. Além disso, cuidadores e pediatras devem estar atentos aos sinais de infecção secundária bacteriana da pele e pronta instituição antimicrobiana, caso a caso, se indicada”, ressalta o médico.

Prevenção

Com relação à prevenção da doença entre crianças, Marcio Nehab salienta que é essencial a atuação de pais, famílias e cuidadores, com foco em práticas para evitar o contato com pessoas contaminadas e seus fluídos corporais, algo que inclui até mesmo objetos usados por outras pessoas. “O uso da máscara bem ajustada e até a redução do número de cuidadores com a doença, quando possível, para crianças são essenciais na prevenção da propagação do vírus. Com o intuito de evitar a autoinoculação e doenças mais graves, uma atenção especial também deve ser dada por parte dos pais e responsáveis para evitar que crianças com monkeypox arranhem suas lesões ou toquem seus olhos”, acrescenta.

“Crianças e adolescentes que tiveram contato próximo de uma pessoa com monkeypox (por exemplo, contato doméstico, com outro membro da família, cuidador ou amigo) devem ser avaliados e receber Profilaxia Pós-Exposição (PEP) com JYNNEOS ou ACAM2000 (para crianças com mais de 12 meses) ou tratamento, quando indicado (no caso dos países e locais onde há os antivirais e as vacinas necessárias para combater essa doença)”, informa o pediatra.

Profilaxia Pós-Exposição 

O médico explica também com relação à eficácia da Profilaxia Pós-Exposição (PEP) para o tratamento da Monkeypox. “Os dados ainda são limitados sobre a eficácia da PEP para crianças que foram expostas à monkeypox. Nenhum tratamento, uso de vacina e outros medicamentos estão atualmente licenciados para crianças ou adolescentes. No entanto, a PEP não deve ser esquecida em crianças ou adolescentes que sejam elegíveis. As decisões sobre a oferta de PEP devem levar em consideração o grau de exposição e o risco individual de doença grave do paciente. Nos países onde esses medicamentos estejam disponíveis ela está sendo utilizada caso a caso”, afirma Nehab.

“Quanto mais precoce uma criança ou adulto exposto ao MPX receber a vacina, caso haja indicação, maior o benefício. A indicação é que a vacina seja administrada dentro de 4 dias a partir da data de exposição, a fim de prevenir o início da doença. Se administrada entre 4 e 14 dias após a data de exposição, a vacinação pode reduzir os sintomas, mas pode não prevenir a doença”, finaliza o médico Marcio Nehab. 

Com informações da IFF/Fiocruz

Pediatra e infectologista explica riscos e prevenção à Monkeypox com crianças

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Leonardo Quintana Bernardi

Jornalista graduado pela PUC-PR com atuação desde 2012 no jornalismo impresso, online e em audiovisual, bem como em assessoria de comunicação. Já trabalhou em órgãos públicos, jornais locais, freelances em veículos de alcance nacional e desempenha suas funções na Folha do Litoral News desde 2017. Defensor do jornalismo como meio de transformação social.