Quem já ouviu uma história de pirata e não se encantou? Em Paranaguá, aconteceu um naufrágio de um navio pirata no ano de 1718 e até hoje o episódio é conhecido como “O Pirata da Ilha da Cotinga”.
O pesquisador Geraldo Hostin, arqueólogo profissional formado na Austrália, desenvolve uma investigação em Arqueologia Marítima. Seu projeto atual é uma tese de doutorado e se refere à história do naufrágio de um navio pirata que ocorreu na Ilha da Cotinga, em Paranaguá. Recentemente, Hostin visitou o jornal Folha do Litoral e contou detalhes deste estudo que já dura cerca de 20 anos e em breve se tornará um livro.
De acordo com Hostin, a embarcação pirata naufragou na região da Ilha da Cotinga em 9 de março de 1718. “Os sobreviventes disseram às autoridades locais que a embarcação carregava um baú cheio de ouro e prata. Esta informação encorajou os portugueses a investigar o naufrágio e, em 1730, empregando mergulhadores que recuperaram muitos objetos do naufrágio, mas nenhum tesouro. Outra expedição foi montada em 1963 e os resultados foram os mesmos. No entanto, algo além do tesouro ainda está escondido: a história do próprio invasor e a arqueologia de seu navio. Minha pesquisa propõe uma investigação de um navio da Era de Ouro da Pirataria, e se baseia em novas evidências arquivísticas e arqueológicas”, contou Hostin, que defende uma identificação adequada e definitiva do pirata como Olivier Levasseur e do naufrágio como La Louise.
O Pirata da Ilha da Cotinga
Segundo o pesquisador, o nome do pirata que ficou conhecido como o “Pirata da Ilha da Cotinga”, é La Buse. “Eu descobri através de pesquisas em arquivos na França, em Portugal e inclusive no Brasil, no arquivo nacional, que esse pirata se chamava La Buse, que na verdade era o apelido dele. O nome de batismo dele era Olivier Levasseur. Ele roubou a fragata La Louise, de 22 canhões, na quarta-feira de cinzas de 1716. Ele era o único pirata francês entre os piratas ingleses do Caribe”, disse.
A vinda de Hostin em Paranaguá foi justamente para dar sequência à pesquisa e verificar “in loco” alguns detalhes que comprovam o naufrágio ocorrido em 1718, na Ilha da Cotinga. “Eu faço pesquisa de arqueologia histórica, então fui no museu do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá para fazer algumas medições em um canhão e também na Capitania dos Portos do Paraná para medir um outro canhão e estou fazendo um levantamento de todos os objetos desse navio pirata para saber a localização, porque o que aconteceu em 1963 não foi exatamente arqueologia, foi um pessoal curioso de História que retirou as peças e deram destinos variados para essas peças, então é muito difícil hoje saber (tirando as que estão no museu) onde estão as outras peças. Por isso, eu estou fazendo o estudo e desde já dá para confirmar que essas peças que eu descobri são realmente do navio pirata, inclusive as peças do Instituto Histórico e Geográfico e também algumas que estão no museu do Paraná, em Curitiba”, explicou o pesquisador Hostin.
Baú do Tesouro
Quando se fala em pirata ou em navio pirata logo vem a curiosidade para saber sobre o tesouro que possivelmente fica escondido em algum lugar secreto da embarcação. Em sua pesquisa de praticamente duas décadas sobre o assunto, Hostin foi categórico em afirmar que a história do baú do tesouro é uma lenda. “Em uma grande tempestade o navio bateu com a popa, abriu água e afundou. Pesquisando piratas e o modo deles eu descobri algo interessante, essa ideia do baú do tesouro pirata com as moedinhas todas espalhadas, isso é uma lenda. Na verdade, quando os piratas conseguiam alguma coisa de valor, ouro, prata, seja o que for, eles separavam em sacos e dividiam para cada um da tripulação em partes iguais, com exceção do capitão que recebia duas partes. Com o navio afundando, provavelmente os piratas pegaram aqueles sacos e começaram a fazer o transbordo para a sumaca que estava acompanhando”, detalhou Geraldo Hostin.
Próximas etapas da pesquisa
“Essa pesquisa está longe de acabar porque a gente ainda tem que ver o estado que está o naufrágio, tem que montar uma equipe e dar continuidade. A coisa mais importante é preservar o naufrágio e o patrimônio da Ilha da Cotinga também”, pontuou Hostin.
“Essa é uma pesquisa de uma vida, de 20 anos, e que deve durar mais 20 anos, mas eu acredito que a primeira fase dela, que seria a identificação do pirata do naufrágio e também da identificação da maior parte das peças, já está concluída. Inclusive tive uma conversa com uma pessoa que esteve na Ilha da Cotinga e descobriu algumas cavernas que podem ter sido utilizadas por um dos piratas, que não foi imediatamente capturado pelos portugueses. Esse pirata é de origem africana, ele ficou 13 anos escondido na Ilha da Cotinga. Ele foi descoberto, provavelmente apenas quando a pessoa que fez a exploração do naufrágio, que se chamava João de Araújo, no ano de 1731. E quando acharam perceberam que ele não falava português direito e tinha armas com ele e os governantes da época o associaram a um pirata”, finalizou.