Na última sexta-feira, 27, o Instituto Butantan, uma das principais entidades científicas do Brasil e do mundo, emitiu comunicado apontando que, de acordo com cientistas da instituição, a Covid-19 é mais preocupante e se espalha mais rápido do que a varíola dos macacos, doença também denominada de “Monkeypox”. A nova enfermidade, segundo o Butantan, é considerada mais branda e com menor potencial de gravidade e transmissão do que o SARS-CoV-2, reforçando que o vírus não é endêmico na Europa e nos Estados Unidos da América, por exemplo.
“A atual incidência de casos de varíola dos macacos em países onde o vírus não é endêmico, como em nações europeias e nos Estados Unidos, levantou um alerta de saúde pública mundial da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas seu surto está longe de ser tão preocupante como o SARS-CoV-2 e suas variantes”, informa o Butantan. Segundo o instituto, o vírus da varíola dos macacos (monkeypox, em inglês) conta com potencial de transmissão inter-humanos menor do que o vírus da Covid-19. “A sintomatologia e mecanismos de transmissão são conhecidos e já possui tratamento regulamentado, fatores essenciais para sua contenção”, ressalta a gerente do laboratório piloto de vacinas virais do Instituto Butantan, Neuza Frazatti Gallina.
“São vírus completamente diferentes. O SARS-CoV-2 é vírus respiratório, que se espalha pelo ar muito mais rapidamente, enquanto o monkeypox tem uma propagação por contato com a pele, com roupas de cama e gotículas, que se combate bloqueando os focos”, informa Gallina.
Covid-19 e variantes ainda são objeto de estudo
Segundo a assessoria, a transmissão, sintomatologia e disseminação da Covid-19 e de suas variantes são itens que ainda constam como objeteto de estudo das autoridades de saúde e comunidade científica, mesmo com os avanços obtidos nos últimos dois anos, inclusive com o surgimento da vacina contra o Coronavírus. “Por isso, os impactos de ambos os vírus na humanidade têm pesos diferentes e não podem ser comparados”, relata a diretora do laboratório de virologia do Instituto Butantan, Viviane Botosso.
“Até o primeiro surto de SARS, os coronavírus não eram conhecidos como agentes causadores de doenças graves em humanos. Relatos da época relacionavam o vírus apenas a resfriados comuns, portanto, acreditava-se que atingia principalmente as vias superiores. Posteriormente, verificou-se que ele também poderia ocasionar doenças graves em humanos. Já o monkeypox é conhecido há mais de 50 anos, o que facilita a adoção de medidas sanitárias de formas mais rápidas”, explica a diretora.
Segundo o Butantan, a comparação entre a Covid-19 e varíola dos macacos é também impedida de ocorrer devido ao potencial de gravidade de ambos os vírus em seres humanos. “À exceção de populações de risco, como crianças e imunocomprometidos, o monkeypox tende a ser uma doença autolimitada que se resolve dentro do período de duas a quatro semanas. Por outro lado, durante a pandemia de Covid-19, verificou-se elevado número de casos graves em diversas faixas etárias, com alta taxa de hospitalização, incluindo em UTIs”, detalha a virologista.
“Por ora é um alerta, nada comparado ao SARS-CoV-2 que já foi divulgado como um problema de saúde sério. Agora as pessoas sabem os sintomas da monkeypox e podem procurar um médico. No começo da pandemia de Covid-19 não sabíamos nada disso e consequentemente as respostas demoraram mais a ser obtidas”, ressalta Viviane.
Chance de morte
De acordo com o Butantan, outro item que deve ser levado em consideração é que a varíola dos macacos é considerada uma enfermidade mais branda do que a Covid-19, dificilmente levando à morte do infectado, mas que pode se desenvolver de forma grave em alguns casos, relata a OMS. “As duas linhagens existentes do vírus da varíola dos macacos, o da África Ocidental, correspondente a todos os casos deste novo surto, tem uma taxa de mortalidade de 3,6%, enquanto o do vírus da Bacia do Congo, mais letal, é de 10%, esclarece o órgão de saúde mundial”, aponta a assessoria.
“A varíola dos macacos é uma doença autolimitante, que tende a se curar sozinha, embora casos graves possam ocorrer em pessoas mais suscetíveis como imunossuprimidos, grávidas e crianças”, explica Viviane Botosso.
O instituto ainda afirma que a Covid-19 atualmente já totaliza mais de seis milhões de mortes indiretas no mundo e 15 milhões de óbitos associados direta ou indiretamente (devido ao impacto da pandemia nos sistemas de saúde e na sociedade) ao vírus no mundo, segundo a OMS, que algo classificado pela organização como “excesso de mortalidade”. “Por isso, a medida mais importante neste momento é bloquear a transmissão de ambos os vírus, “o que nós aprendemos com o próprio SARS-CoV-2”, finaliza a virologista.
Com informações do Instituto Butantan