Na última semana, o Instituto Butantan, uma das principais entidades científicas do Brasil, apresentou os primeiros resultados da vacina única contra a Covid-19 e gripe que está ainda em fase de testes em modelos animais. Segundo o Butantan, o imunizante apresentou melhor resposta imune e por mais tempo contra as duas doenças do que as vacinas atuais e deverá ser testada em humanos em até um ano.
“A candidata a vacina única está em fase de testes em modelos animais que após imunização produziram anticorpos reagentes às três cepas do vírus influenza (H1N1, H3N2 e B) assim como ao vírus SARS-CoV-2. O imunizante conta com a formulação da vacina contra a Covid-19 que está em desenvolvimento pelo Butantan e será inteiramente produzida no Brasil, e da vacina da influenza, também produzida pelo Instituto e que abastece o Programa Nacional de Imunizações (PNI)”, afirma a assessoria do Butantan.
“Os primeiros resultados são muito promissores. Ela funciona para produção de anticorpos contra a influenza e para produção de anticorpos contra Covid-19”, explica o diretor de Produção do Butantan, Ricardo Oliveira.
Fase inicial
Segundo Oliveira, os estudos da vacina ainda estão em fases iniciais, no que é chamado de prova de conceito, período onde são coletadas análises feitas e amostras não-humanas com demonstração dos resultados. Diante dos desdobramentos positivos, o diretor vê a possibilidade de começar os ensaios clínicos, ou seja, os testes em humanos em até um ano. “A data toma como base a experiência do instituto na produção do outro imunizante contra a Covid-19, cujos testes em humanos começaram exatamente um ano depois de finalizada a prova de conceito”, acrescenta.
“O que facilita o processo é que estamos misturando produtos bem conhecidos pelo Butantan: a vacina da influenza, que temos conhecimento há muitos anos, e outro imunizante, que apesar de recente, usa a mesma plataforma da influenza”, ressalta Oliveira.“Estamos estudando essa interação, fazendo os exames de estabilidade e os primeiros resultados são bons”, completa o diretor.
Resposta mais imune e duradoura que vacinas existentes
Segundo o Butantan, esta primeira etapa dos estudos para viabilização da vacina combinada mostrou que ela funciona contra o Coronavírus e a Influenza e foi além disso: demonstrou, em indícios iniciais, “que pode ter uma resposta imune ainda mais robusta e duradoura do que as vacinas atuais”, completa.
É o que aponta o pesquisador científico do Centro BioIndustrial do Butantan, Paulo Lee Ho, que atua de forma direta no estudo. “Os resultados são excelentes porque a gente vê que funciona, e estamos vendo que a resposta está muito melhor porque estamos incluindo um adjuvante, que produz uma proteção muito mais eficaz contra os dois antígenos”, ressalta.
“A introdução do adjuvante produzido pelo próprio Butantan, chamado de IB160, que é muito semelhante a adjuvantes usados na vacina contra influenza sazonal, tem como vantagem adicional exigir uma quantidade menor de antígenos na composição da vacina, aumentando a capacidade de produção de doses com o mesmo quantitativo de antígenos produzidos, algo importante em tempos de pandemia e também diante da possibilidade de haver reforço na vacinação”, explica o instituto.
“[A inclusão do adjuvante] melhora a resposta não só em quantidade, mas em qualidade de anticorpos. O estudo indica que essa inclusão pode aumentar o tempo de produção desses anticorpos e que a resposta imune pode durar muito mais, ser mais efetiva sem alterar a segurança”, destaca Paulo.
Vacina com tecnologia brasileira
A vacina única que está em fase de estudos é uma parceria com organizações internacionais junto ao Butantan por meio da nova vacina contra a Covid-19 que está sendo desenvolvida no instituto e que utiliza a tecnologia de vírus inativado, que, além de ser mais uma das mais estudadas e seguras no mundo, possui “o diferencial de ser uma vacina de baixo custo e é produzida a partir de ovos embrionados, o que pode mudar a forma como os países em desenvolvimento combatem o vírus SARS-CoV-2”, completa a assessoria.
“A estratégia pretende aproveitar a capacidade industrial já instalada no País, no caso, da planta de produção dos monovalentes dos antígenos da influenza para a produção de vacina contra Covid-19, usando insumos nacionais, ao contrário de outras vacinas que usam meios de cultivos e reagentes caros e disputados num cenário pandêmico. Se for provada, segura e efetiva nos testes com voluntários, esse imunizante tem potencial de elevar em mais de 1 bilhão por ano a atual oferta de vacinas contra a Covid-19, especialmente nos países em desenvolvimento”, finaliza o Instituto Butantan.
Com informações do Instituto Butantan