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Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá

Descobrir o descobrimento: Descobrir a sabedoria dos povos indígenas

O excerto transcrito acima foi proferido por Davi Kopenawa, intelectual indígena Yanomami.

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Os brancos são engenhosos, têm muitas máquinas e mercadorias, mas não têm nenhuma sabedoria. Não pensam mais no que eram seus ancestrais, nem como foram criados. Nos primeiros tempos, eles eram como nós. Mais tarde, atravessaram as águas e vieram em nossa direção. Depois, dizem que descobriram a nossa terra. […] Nós, habitantes da floresta habitamos aqui há muito tempo, no começo das coisas só havia habitantes da floresta, seres humanos. Os brancos clamam hoje “nós descobrimos a terra do Brasil”. Isso não passa de uma mentira. (Davi Kopenawa, Descobrindo os brancos, 1998).

O excerto transcrito acima foi proferido por Davi Kopenawa, intelectual indígena Yanomami. Sua fala é interessante para abrir o texto que pretende falar um pouco do significado do dia 19 de abril, data comemorada nacionalmente como o dia do Índio. A criação da data em si, remete aos protestos, as lutas que os povos indígenas vêm travando ao longo dos séculos, luta pela demarcação de suas terras, luta pelo reconhecimento de suas tradições e, sobretudo, luta por respeito.

Basta uma simples consulta nos livros de História para reconhecermos que a “História do Brasil” e do “descobrimento” é uma história que se inicia com o genocídio de milhares de povos indígenas que viviam no território brasileiro. Povos que foram submetidos ao trabalho escravo, foram convertidos e quase dizimados por terem outra relação com a terra, outros costumes e por terem muita riqueza e sabedoria. Uma riqueza que não tem preço, a saber, a riqueza das nossas florestas e dos nossos rios. 

Na história mais recente, outros tristes acontecimentos demonstram que nós pouco aprendemos com o passado, basta lembrar-se dos Xetá que quase foram dizimados pela expansão cafeeira no centro sul do Paraná, que foram envenenados e acompanharam a triste devastação das suas terras para a implantação de uma monocultura; dos Guarani que foram expulsos de suas terras e que viram o rio Paraná transbordar para a construção de uma hidrelétrica. Qual o valor da terra?  Para os indígenas a terra é sagrada, não é apenas o lugar onde eles habitam, mas um espaço central na sua cultura, o espaço onde os espíritos de seus ancestrais descansam. Assim, a terra não tem preço, não é uma mercadoria. Tais questões devem sempre ser lembradas e debatidas. Ao invés de estudarmos o descobrimento, deveríamos descobrir o quanto de sabedoria e tradição os indígenas têm para nos ensinar. O dia 19 de abril simboliza o respeito que deveríamos ter pela cultura indígena, a luta pela demarcação de terras e pela preservação das nossas florestas.

Priscila Onório Figueira

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