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Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá

CASA DACHEUX

O som dos pequenos gravetos, explodindo ao calor, anunciava o início da rotina diária.

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Ao entrar no nosso velho sobrado, hoje Casa Dacheux, lindamente restaurada ao seu esplendor original, me vem à memória lembranças de minha infância vivida neste histórico edifício.

O dia começava cedo no sobrado do “Largo da Matriz” ou Rua Conselheiro Sinimbu, 68. Quando nossa avó, Adelaide Dacheux acordava, ainda estava escuro. Levantava, descia ao porão, de onde trazia a lenha necessária para acender o velho fogão, que brilhava de tão areado e limpo. O som dos pequenos gravetos, explodindo ao calor, anunciava o início da rotina diária. Aceso o fogo, a chaleira com água era a primeira a ser aquecida. Depois de muito soprar e cuidar para que a chama não se apagasse, vovó fazia a sua higiene pessoal, prendia, em forma de coque, os longos cabelos, ainda não totalmente embranquecidos, mas grisalhos e brilhantes, como se tivessem passado por uma sessão de “luzes”.

Era uma senhora de baixa estatura, testa larga, olhos azuis profundos, que acompanhavam com um brilho especial o crescimento dos netos e da bisneta, ainda um bebê de colo. Usava saias compridas e batas, costume antigo que ela nunca mudou, e que a faziam parecer mais velha. O tilintar da louça e dos talheres e o aroma do café sendo coado, chegavam aos quartos, animando os que ainda relutavam em sair da cama. Em pouco tempo estávamos todos à mesa e enquanto saboreávamos o gostoso café da manhã, conversávamos, ríamos e nos encantávamos com a vista do rio Itiberê que se descortinava através das imensas janelas da varanda.

Era sempre assim: os jovens partiam para a escola, meu pai para o trabalho e vovó para o quintal, onde cuidava das galinhas, da pequena horta e dos gatos e cachorros que eram mansos e mantinham uma convivência pacífica. Mamãe herdara de vovó sua máquina de fazer “ponto ajour” e estava sempre às voltas com “rouges e babados” que as costureiras enviavam diariamente para serem confeccionados. Nosso avô, Nicolau Dacheux foi um próspero comerciante que morava com a família em uma casa na Rua XV de Novembro, em frente à Igreja da Ordem.

Era proprietário de uma confeitaria que atendia às festas da cidade e também à clientela do dia a dia que se deliciava com os quitutes muito bem preparados pelas doceiras da época. Em viagem de negócios ao Rio de Janeiro, moço ainda, faleceu repentinamente por um problema cardíaco. Viúva, com 7 filhos menores, sem condições de assumir os negócios do marido, vovó vendeu a confeitaria, a casa da Rua XV e comprou este sobrado do sr. Aníbal Dias Paiva no mês de maio de l912.

No próximo fim de semana continuaremos essa linda história.

Maria Helena Mendes Nízio

Diretora de Cultura – IHGP

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