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Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá

Abrindo uma janela no tempo – parte 1

Nessa casa viveu Iria Correia, a primeira pintora paranaense.

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Era uma vez um sobradinho em uma das ruas estreitas do centro da cidade de Paranaguá, em estilo colonial, coberto de telhas goivas com beiral sobre quatro janelas iguais, pequenas, em guilhotina e com caixilhos fazendo desenhos nos vidros, alguns coloridos.

Nessa casa viveu Iria Correia, a primeira pintora paranaense.

A casa da família possuía a fachada de pedras no andar térreo, e no centro, uma única porta, com uma pedra enorme, como degrau. Ela abria pela manhã e fechava à tarde.

Era como atravessar a janela do tempo…

Batíamos na porta principal da casa à espera de alguém que tivesse ouvido nossas batidas. Silêncio… Ouvia-se então o arrastar de chinelos e enfim a porta se abria. Mariquinha e Carolina, irmãs de Iria, ainda moravam lá.

A família tivera bens, escravos e uma posição social muito confortável. Os pais deixaram como herança papéis muito valiosos guardados em um baú, mas quando este foi aberto, já haviam perdido o valor. A vida de ambas foi então transformada.

Mariquinha, muito afável. As suas pequenas tranças de cabelos grisalhos rodeavam a cabeça e encontravam-se na nuca, amarradas por uma fita. Saias largas e compridas e batinha folgada. Ela era bem redonda de formas…

Carolina, apesar dos cabelos brancos, era a menina da casa, sempre rindo e alheia.

Faziam-nos entrar para a sala, em que ainda conservavam móveis austríacos: um sofá ao fundo, ladeado por cadeiras dispostas em fila, algumas almofadas de crochê.

Entre as portas havia aparadores de mármore e nas paredes retratos da família, pintados por Iria, que apesar de desaparecida muito jovem, deixou um grande acervo em óleo sobre tela, aquarelas, miniaturas em lâminas de marfim, tudo enfim, que o seu grande talento produziu durante sua curta vida e que as irmãs, Maria Cândida e Carolina Cândida guardavam com carinho e devoção como relíquias.

Enquanto conversavam os meus olhos de criança passeavam pela sala, observando os lindos e antigos objetos repousando, talvez, há muitos anos, no mesmo lugar. Tive minha curiosidade chamada para um lindo álbum de veludo azul-marinho, que jazia em um dos aparadores, recamado de arabescos dourados emoldurando a capa, com as iniciais IC no meio. Levantei-me e fui até o alvo escolhido. Mariquinha veio carinhosamente até mim dizendo, com voz suave, “eu mesma o mostrarei a você”, e pôs-se a virar as páginas, delicadamente. Foi quando desvendei o mistério do Álbum Azul Marinho de Iria Correia.

Gilka Correia

Centro de Letras do Paraná

Pesquisadora convidada do IHGP

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