Paranaguá tem a primeira Igreja do Brasil dedicada à Nossa Senhora do Rosário

Um dos primeiros nomes do povoado formado na costa brasileira, muitas léguas abaixo de São Paulo, em torno de uma pequena igreja, foi Vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá.

A igreja, pelos registros históricos, é a primeira edificação católica construída no Paraná e a primeira no Brasil dedicada à Nossa Senhora do Rosário.

Em estilo colonial português, do século XVIII, a igreja matriz tem o primeiro marco de sua construção datado de 1578, ou seja, está instalada no local há 444 anos.

A história de Paranaguá, não tem como ser contada sem citar a devoção a Nossa Senhora do Rosário e a velha Igreja Matriz. A primeira cidade do estado chamada de Mãe do Paraná, tem desde sua origem uma Mãe divina: Nossa Senhora do Santíssimo Rosário!

O bispo diocesano de Paranaguá, dom Edmar Peron, fala da sua importância simbólica da igreja. “É muito difícil nós separarmos o cidadão e o cristão, nesse caso da edificação da 1.ª igreja dedicada à Nossa Senhora do Rosário em 1578. É claro que nós respeitamos todas as visões e experiências religiosas da atual Paranaguá, mas não podemos nos ferir aos inícios desta cidade, sem a aquela visão de fé e devoção a Nossa Senhora do Rosário.

Ela fez com que a comunidade encontrasse um ponto de união, mesmo questões políticas ou administrativas foram decididas dentro da igreja, seja votações ou eleições, e para dizer assim, não é que eu queira que volte a acontecer isto, mas é para dizer que há essa ligação profunda entre a edificação de uma igreja e a vida de uma cidade. Eu creio que nós não podemos negar essas raízes da devoção a Nossa Senhora ao celebrarmos a festa da cidade de Paranaguá e da sua criação”, externa Dom Edmar. 

“Assim ela foi experimentada essa devoção ao longo dos séculos. É uma população que confia nos cuidados maternos da Mãe de Deus, que invoca, que reza, que louva, que reconhece que ela é motivo de nossa união e por isso então da comunhão entre nós. Louvo a Deus pelo aniversário da nossa cidade, por essas raízes da devoção que marcaram o início e tem marcado ainda hoje a vida da cidade de Paranaguá.  Ao rezar a Deus pela cidade não posso deixar de invocar os cuidados maternos da mãe de Jesus sobre todos nós que moramos na cidade de Paranaguá”, enfatiza Dom Edmar.

Padroeira da Diocese de Paranaguá

A devoção de Nossa Senhora do Rosário sempre foi forte que também foi escolhida para ser a padroeira da Diocese de Paranaguá. “Como a devoção a Nossa Senhora do Rosário marcou os inícios da criação da cidade de Paranaguá, quando Papa João 23, no ano de 1962 criou a Diocese de Paranaguá dedicou-a justamente aos cuidados da Mãe de Deus com esse título de Nossa Senhora do Rosário, então igreja matriz tornou-se a Catedral da Diocese dedicada à Nossa Senhora do Rosário.  Para nós,  católicos, não podemos pensar, viver a experiência de igreja sem uma profunda marca Mariana na nossa vida.

A marca Mariana e a devoção, a oração, o terço, a ladainha e a procissão, e tudo isso é a marca da fé, e depois é claro nós compreendemos que é um aprender de Maria como se vive a fé. Porque o Rosário é justamente aquela contemplação do que Deus fez para a nossa salvação. O que ele fez em Jesus para nos salvar e como Maria cooperou disse o seu SIM nesse projeto salvação.  Nós que somos devotos adoramos a Deus que nos salva ainda hoje e imitamos Maria dizendo também os nossos SIMS Deus quando nós nos tornamos pessoas comprometidas com a justiça, com a igualdade, com a solidariedade, com os cuidados com a natureza porque isso é uma necessidade no nosso litoral, os cuidados com a nossa cidade, com a edificação, com o patrimônio histórico da nossa cidade, tudo isso nós vamos dando os nossos sins a Deus cuidando do mundo. Nós podemos imaginar que a fé nos retiraria dessas relações concretas entre nós e com uma cidade”, finaliza Dom Edmar.

Importância histórica da Igreja Matriz

Na época, os navegadores espalharam a notícia sobre a vitória da armada católica em Lepanto (Grécia). O sucesso da armada católica e seus aliados, nesta batalha naval, evitou que os turcos invadissem a Europa.

No dia da batalha, 7 de outubro, houve uma procissão em Roma, com os fiéis rezando o terço e pedindo a intercessão da Senhora do Rosário. Desde então, esta data é comemorada por toda a Igreja.

O historiador e membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá, Hamilton F. Sampaio Junior, destaca que “o povoamento do litoral do Estado do Paraná aconteceu no século XVI, por colonizadores vindos de Cananéia e São Vicente. Tratando-se de portugueses, espanhóis, todos católicos e, nada mais natural que cogitassem de prover o novo aglomerado humano, de autoridade eclesiástica e, pela necessidade de socorros espirituais a uma população de três a cinco mil almas disseminadas pelo povoado, e sítios marginais da baía e rios que nela deságuam.  E com a autorização do Bispado do Rio de Janeiro se construiu em Paranaguá a primeira Igreja dedicada ao culto de N. Sra. do Rosário no Brasil”, comenta  Hamilton Junior, tendo como referência “A Matriz de Paranaguá” de historiador Aníbal Ribeiro Filho.

A Igreja de Paranaguá em sua longa existência, esteve sob a jurisdição do Bispado do Rio de Janeiro durante 167 anos e, do Bispado de São Paulo durante 149 anos e, ainda do Bispado de Curitiba durante 70 anos e, atualmente se encontra sob a jurisdição do Bispado de Paranaguá há que este ano completa 60 anos.

O historiador relata que “assim a ereção da 1.ª Capela de N. Sra. do Rosário, foi feita pela Provisão, passada pelo Padre João da Rocha Ferraz Vigário de Cananéia e Visitador do Bispado do Rio de Janeiro, foi ele nomeado Vigário da Vila de N. Sra. do Rosário de Paranaguá, vários sacerdotes pertencentes a Congregações Religiosas, exerceram o paroquiato quando suas Congregações aqui estiveram”.

Em sua pesquisa, o historiador também destaca que “Paranaguá vem há muitos anos recebendo os favores espirituais de N. Senhora do Rosário, entroniza no coração dos fiéis que lançaram os alicerces de sua comunidade e, sempre cultuou de modo digno as tradições religiosas de seu povo, realizando os atos litúrgicos com expressiva pompa, tendo por finalidade melhor honrar a Deus e, à Sua Mãe Santíssima. Saint Hilaire, notável viajante francês descreveu com  fidelidade os costumes brasileiros do início século XIX, quando esteve em Paranaguá, onde dia 31 de março de 1820, assistiu às solenes cerimônias realizadas na Matriz por ocasião da Semana Santa e, em seu livro de viagens confessa sua grande admiração “pelo fervor religioso e aparato de cerimonial litúrgico” que teve oportunidade de ver, acrescentando ainda sua surpresa com o tamanho da nave da Matriz do Rosário, “a mais comprida Igreja do Brasil”, das que ele visitou nessa época”, comenta.