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Entrevista

Tenente Zenildo faz balanço da carreira na PM

Foram 35 anos de atuação em diversos setores da corporação

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Nascido em Paranaguá, o tenente Zenildo Caetano das Neves, entrou para a reserva no dia 22 de maio deste ano, após 35 anos de atuação em todo o litoral. Sua carreira foi construída na 1.ª Companhia de Polícia Militar, passando por setores distintos na corporação e obtendo novas especializações. 

Agora, na reserva, tenente Zenildo afirmou que pretende continuar atuando na área de gestão, em que se especializou ao longo da carreira, e que seu objetivo é continuar colaborando com a sociedade. Na entrevista, ele conta sua trajetória profissional, fala sobre como foi atuar em diversas áreas no quartel, as diferenças entre atuar há 35 anos e agora, e o interesse assíduo na sua formação, o que fez com que alcançasse o título de oficial da Polícia Militar.

 

Folha do Litoral News: Como surgiu seu interesse pela carreira militar?

Tenente Zenildo: Um dia estava passando com meu pai, quando tinha cerca de 16 ou 17 anos, pela Praça dos Leões e havia dois policiais militares e falei: este é um bom serviço né, pai? E surgiu esse interesse, porque na minha família não há tradição na área policial.

 

Folha do Litoral News: Como começou na carreira e em quais áreas atuou?

Tenente Zenildo: Em 1985, quando já tinha feito 18 anos, abriu a inscrição para a polícia e resolvi me inscrever junto com meu primo. Eu passei e foi uma adaptação muito difícil. Para quem vem da vida civil, sem nunca ter tido uma experiência militar, é uma adaptação difícil deixar de ser civil para ser militar. O mais difícil é mudar certos comportamentos. Logo em seguida, já fiz o curso de cabo, subi de graduação, como soldado atuei mais na área do trânsito, o serviço que o Demutran faz hoje, como agente de trânsito. Depois fui trabalhar na Rádio Patrulha, onde fiquei por um ano. Na Rádio Patrulha a gente acompanha as mazelas da sociedade, trabalha diretamente com o povo, não é somente roubo e homicídio. O que mais demandava trabalho para a gente eram as assistências, pois nessa época não tinha Samu, só a Santa Casa e a Polícia Militar. Atendemos muitas parturientes. Em 1988, abriu o curso de sargento e eu fui fazer no Guatupê. Fiquei um ano longe de casa, vindo correndo e voltando para lá, mas faz parte do aprendizado. Voltei e fui trabalhar no antigo GOE (Grupo de Operações Especiais), que hoje é a Rotam. A gente sai da academia a mil por hora. Uma coisa que não se ensina na academia é a paciência com a falta de disciplina. Depois fiz outros cursos, fiquei como terceiro sargento por um tempo, trabalhando sempre na parte operacional. Fiz também outros cursos como o de especialização em polícia judiciária, que é o trabalho de apuração de crime, de apuração de infrações penais praticadas por policiais miliares em serviço ou de folga. Estudei bastante essa área, enquanto os outros ficavam jogando bola na folga eu ia para a biblioteca estudar processo penal para me aprofundar. Em 1995, fiz especialização só nesta área, um curso muito bom. Em 1997, fiz um curso de monitor de ensino para dar aula, em que a gente estuda muita sociologia e filosofia. Saímos desse foco de polícia e bandido e as promoções foram vindo. Em 2000, fiz um curso de aperfeiçoamento em sargento e aprendi sobre essa área de administração de pessoal, de material. A Polícia Militar tem essa vantagem, a formação é continuada, pois a parte técnica não dá nem metade do currículo. Em 2006 fiquei trabalhando na seção de Justiça e Disciplina. Fiz o curso de oficial em 2010 e 2011 e saí promovido a 2.º tenente.

 

Folha do Litoral News: Qual a avaliação que faz da sua trajetória?

Tenente Zenildo: Graças a Deus consegui atingir todos os objetivos que coloquei em mente. Fiz os cursos que queria, trabalhei nas áreas das quais gostei, a gente vai criando afinidades, pois a Polícia Militar é muito ampla em termos de atuação. Só na parte administrativa existem diversas seções, de pessoal, de informações, planejamento, logística, relações públicas, tesouraria, o quartel tem muita coisa para gerir e eu trabalhei praticamente em todos os setores.

 

Folha do Litoral News: Qual a diferença de atuar há 35 anos, quando começou na carreira, e agora, levando em consideração a mudança na sociedade?

Tenente Zenildo: O que nós podemos observar é que no Brasil ainda existem vários fatores que vão contra a atividade policial. Começando com um judiciário que demora muito para julgar aquele sujeito que você prendeu em flagrante, isso dá a sensação de impunidade. O sujeito volta para a rua e volta a reincidir e temos que refazer o trabalho, prender de novo, isso atrapalha o serviço policial. O segundo problema, quer queira ou não, existem muitos presos no Brasil, esses que estão presos é porque não têm jeito mesmo, são os piores dos piores. Porque os mais fraquinhos estão soltos. A nossa legislação incentiva o criminoso. A tal ideia do “dá nada”, porque faz uma vez e é solto, outra vez e também é. A legislação é fraca e a impunidade incentiva a criminalidade. Outro problema é que uma parcela da população vê o criminoso com bons olhos, como coitado. Muitas vezes, se é complacente com o criminoso. Querem que matem, querem pena de morte quando é para os outros, mas quando é um parente dele, ele vai esconder. Lá atrás era diferente. O cidadão era mais rigoroso consigo mesmo. Havia um conceito ético e moral mais aperfeiçoado e estamos caminhando para cada vez pior, infelizmente. 

 

Folha do Litoral News: Tem algum fato que o marcou mais durante esses anos?

Tenente Zenildo: Teve muitos casos. Se fosse contar todos daria um livro. Mas tem alguns interessantes. Uma vez levamos uma menina de 14 anos ao hospital, ela tinha levado uma facada. Ela disse que a madrasta havia esfaqueado. A levamos no início da noite, naquela época não tinha Samu, o médico passou um monte de remédio para a menina e perguntei se ela tinha dinheiro para comprar e ela disse que não. Eram vários para dor, antibiótico. Fizemos uma vaquinha, compramos os remédios e a levamos de volta para casa. São coisas que não somos obrigados a fazer, mas tínhamos que fazer. Essas situações são as mais gratificantes.

 

Folha do Litoral News: Deixo o espaço para suas considerações finais. 

Tenente Zenildo: Gostaria de dizer aos meus colegas de trabalho para manter a fé. Desde que eu entrei, o pessoal fala que vai melhorar e a polícia melhorou muito. O nosso ambiente interno melhorou muito. Eu sou da época em que sargento não falava com soldado. A Polícia Militar hoje está mais democrática e participativa. Mantenham esse espírito, essa visão positiva, porque quem ganha é a população de Paranaguá e também as nossas famílias. Melhorou nos últimos anos e vai melhorar muito mais.
 

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