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Entrevista

Técnica busca consolidar Paranaguá no esporte paralímpico

Educadora física Silmara França tem ajudado atletas a alcançarem bons resultados nas competições

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O esporte paralímpico tem cada vez mais transformado a visão da sociedade acerca das pessoas com deficiência. E isso só é possível devido à dedicação de educadores físicos e demais profissionais da área que se envolvem com a causa e acreditam na força do esporte para o desenvolvimento. A treinadora da Associação Paralímpica de Paranaguá (APP), Silmara França, é uma dessas pessoas que não medem esforços para ampliar o projeto no município para que ele possa ser mais conhecido e, assim, auxiliar mais atletas na busca de seus objetivos.
A educadora física é natural de Guarapuava, formada em Curitiba e hoje é professora na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Paranaguá, Escola Maria Nelly Picanço. Tem especialização em Educação Especial e Inclusiva, pós-graduação em Psicomotricidade e está em andamento nos estudos sobre o Espectro Autista.
Pela Associação, Silmara treina deficientes visuais, pessoas com Síndrome de Down, cadeirantes e deficientes visuais. Recentemente, alcançou um resultado bastante importante para o esporte no município. Seu atleta Ronaldo Melo Pereira ganhou o troféu de 2.º lugar no Campeonato Regional Sul de Bocha Paralímpica. Na entrevista, a treinadora conta essa e outras conquistas e o desafio para consolidar o esporte no litoral. Confira:

Folha do Litoral News: Como surgiu seu interesse em atuar na área?

Silmara: Quando comecei a licenciatura, tinha uma disciplina de Educação Física Adaptada e a professora trabalhava com um projeto com atletas de natação para pessoas com deficiência. A partir das aulas com ela, comecei a me interessar pelo projeto. O meu primeiro ingresso na educação especial foi quando fiz o processo seletivo do Estado e comecei a atuar com educação especial em Curitiba. Trabalhei com autistas, todos os TGD – Transtornos Globais do Desenvolvimento, e depois fui para o Instituto Paranaense de Cegos, onde eu fiz uma especialização.

Folha do Litoral News: Desde quando atua na Associação Paralímpica de Paranaguá?

Silmara: Lá, eu trabalhava com treinamento em atletismo e, com isso, já comecei a trabalhar pela Associação Paralímpica de Paranaguá (APP), que surgiu em 2009. No Instituto de Cegos conheci o professor sócio fundador da APP, ele é cego e nascido em Paranaguá, o Mário Sérgio Fontes, e ele me chamou para trabalhar na Associação. Formei uma equipe de atletismo que representava Paranaguá. Fiquei lá até 2014. Há cerca de dois anos vim para o litoral e o professor Mário Sérgio perguntou se eu não queria tocar a Associação, que estava parada e tínhamos que recomeçar do zero. Com a ajuda do meu esposo Edemir, que é formado em Direito, conseguimos colocar toda a documentação em dia e participamos do primeiro edital da prefeitura através da Lei de Incentivo ao Esporte. O projeto foi aprovado e envolve as modalidades de bocha e atletismo. Agora, no segundo ano, conseguimos de novo a aprovação do projeto e a verba para trabalhar e é o que nos sustenta até agora.

Folha do Litoral News: Quais foram as conquistas do projeto?

Silmara: No primeiro ano, já iniciamos as competições regionais, que são classificatórias para eventos nacionais. Nós temos atletas do atletismo que no primeiro ano já se destacaram, o Vinícius Cabral que é bem conhecido na cidade, que é bicampeão brasileiro na categoria dele. Conseguimos também a classificação da Pâmela Ayres, que é deficiente visual, que é de Ponta Grossa e tem família em Paranaguá e representa a nossa cidade. Tivemos um destaque também na bocha paralímpica, o Marcelo Santos, que hoje é um modelo para outros atletas, ele foi medalhista nas Olimpíadas do Rio 2016. Ele é um exemplo de treinamento e técnica para os nossos atletas que estão seguindo os passos dele. Neste ano, também já tivemos destaque nos Jogos Escolares do Paraná, temos a parceria da Apae, a diretora Cláudia nos dá um apoio muito grande e nós propomos de iniciar as práticas de atletismo dentro da escola, que é a formação de base com crianças de 8 anos. Temos cerca de 20 crianças participando, nada em forma de competição, mas com brincadeiras lúdicas, circuitos, para que desenvolvam todas as práticas do atletismo. Conseguimos levar cinco crianças que já estavam na faixa etária da competição, de 12 a 14 anos, eles participaram do regional em Paranaguá e foram para a final. Consegui que os cinco que são aqui da Apae de Paranaguá fossem contemplados na bolsa Talento Olímpico do Paraná, uma bolsa de R$ 150 que serve como incentivo para a criança continuar no esporte.

Folha do Litoral News: Qual a importância do esporte para o desenvolvimento dessas crianças?

Silmara: Nosso objetivo principal é primeiro incentivar a participação. A gente não pensa em competir de início. O objetivo da Associação hoje é fazer com que a pessoa com deficiência saia do entorno escolar e da casa e vivencie outras atividades, no caso os jogos e as competições. É importante que ele socialize e se integre com outras pessoas e ganhe autonomia. Eu vivo ouvindo dos pais um depoimento assim: o meu filho não amarrava o cadarço, porque sempre tinha alguém que fizesse isso por ele. No momento em que a criança sai da sua zona de conforto, ele vê um colega fazendo e faz também. A partir do momento que um aluno participa de uma competição que é de nível alto, de alto rendimento, e consegue trazer um prêmio, como o nosso aluno Ronaldo, ele sabe que está representando a cidade e que é bom para a sociedade que conhece um pouco do paradesporto. E essa é uma luta muito grande nossa com a APP, o meu maior objetivo hoje é fazer com que Paranaguá e o litoral conheça o paradesporto, conheça esses atletas, que são cadeirantes, deficientes intelectuais, que tem Síndrome de Down, mas que tem toda a condição de participar de uma competição e trazer uma medalha para a cidade. 
Folha do Litoral News: Quantos alunos estão envolvidos hoje no projeto?
Silmara: Temos cerca de 30 alunos. A partir de oito anos iniciando na base e os atletas que já estão em fase de rendimento. Temos atletas até da fase adulta. De repente, se há um paralisado cerebral que está em casa, é cadeirante e se identifica, é só nos procurar que a gente atende. A nossa intenção é justamente essa, é fomentar o paradesporto no litoral. Na última competição em Joinville, o Campeonato Regional Sul de Bocha Paralímpica, fomos com quatro atletas da bocha, é uma etapa classificatória para a competição nacional e competimos com mais 16 outros clubes de outras cidades do Sul. Com quatro atletas trouxemos o troféu de 2.º lugar geral por equipe, isso é sinal que a nossa campanha foi boa. O Marcelo Santos foi classificado e vai para o brasileiro que será em São Paulo, foi classificado também para participar em Recife no fim do ano e os demais não conseguiram a classificação, mas as vitórias que eles tiveram contam pontos. Não trouxeram uma medalha, mas ajudaram na pontuação. Estamos tendo qualidade de atendimento, de treinamento, e vamos chegar a melhores resultados. Um dos atletas, o Augusto, quase foi classificado para o nacional, ficou em 4.º lugar e no ano que vem vamos buscar essa classificação, porque ele tem muito caminho pela frente.

Folha do Litoral News: Como se sente enquanto profissional podendo colaborar com esses atletas?

Silmara: A partir do momento que eu escolhi ir para a educação especial, eu sabia que eu tinha uma função. O que eu percebo hoje é que a educação especial é onde eu me sinto útil. Eu sei que eu vou levar um pouco do meu conhecimento, da minha experiência para eles e, ao mesmo tempo, eu aprendo muito, a cada dia eu aprendo algo diferente. Para mim é gratificante. Não é qualquer pessoa que pode trabalhar nessa área, primeiro é preciso ter especialização para entender as deficiências, saber como lidar com isso. Necessita de formação e eu tenho especializações na área. Estou em busca no litoral de profissionais de educação física que gostem do paradesporto, por enquanto sou só eu e o professor que trabalha com o vôlei sentado que é outro projeto. É muito pouco, até estamos divulgando para quem quiser ser voluntário para ajudar nos treinamentos. Qualquer coisa que a pessoa possa nos ajudar é só nos procurar. Podem me encontrar na Apae ou no Estádio do Caranguejão às terças, quartas e quintas-feiras. Temos também a nossa página no Facebook (APP Paranaguá).
 

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