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Entrevista

Presidente do IHGP destaca a importância da mulher nas comunidades

Guadalupe Vivekananda entra no seu segundo ano à frente do Instituto que preserva a memória de Paranaguá

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A bióloga Guadalupe Vivekananda assumiu a presidência do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá (IHGP) em janeiro do ano passado. Com um ano à frente do espaço, ela pode ter uma visão ainda maior da importância do Instituto para a preservação da cultura paranaense. Nesta semana, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, Guadalupe falou sobre a mulher pesquisadora, batalhadora, escritora, poetisa, professora, líder e, principalmente, de mulheres que assumem seu papel na sociedade. A presidente do IHGP contou também sobre a sua atuação no Parque Nacional do Superagui, onde trabalhou por anos defendendo a conservação do meio ambiente e a qualidade de vida das comunidades mais isoladas.
Folha do Litoral News: Como você analisa a presença da mulher na área de pesquisa?
Guadalupe: As mulheres são muito mais dedicadas, temos até estatísticas mostrando que existem mais mulheres com mestrado e doutorado do que homens. No tempo que trabalhei nas ilhas e em áreas mais isoladas, eu notei que as mulheres se esforçam mais para se qualificar, elas vão a Guaraqueçaba, a Paranaguá, fazem cursos a distância, por isso hoje temos mulheres com especialização e mestrado nas ilhas. Elas são muito mais dedicadas aos estudos. O interesse pela pesquisa por mulheres aumentou bastante nos últimos anos, inclusive na minha área, da Biologia.
Folha do Litoral News: Como foi atuar no Parque Nacional do Superagui?
Guadalupe: Eu fiquei 13 anos como chefe do parque e depois mais 10 como analista ambiental. Eu atuava na área de organização das pesquisas, na detenção da especulação imobiliária, para que elas não acontecessem, caso contrário as comunidades tradicionais seriam retiradas, pois quando a especulação chega não tem dó nem piedade, além da importância de conservar a área. Eu participava do comitê do Mico Leão da Cara Preta, que é uma espécie ameaçada, raríssima que existe na Ilha do Superagui e também em uma parte continental chamada de Vale do Rio dos Patos. Nosso trabalho era fazer a gestão da área, de modo que fosse compatibilizada a conservação e o modo de vida das pessoas que vivem lá. Quando comecei a trabalhar lá, em 1989, não havia muitas mulheres assumindo parques nacionais no Brasil, eram poucas e poucos biólogos também que assumiam as chefias. Quando fui chamada fiquei um pouco assustada, porque era uma responsabilidade grande e muitas pessoas falavam que não iam gostar de mim porque os pescadores eram um pouco machistas, mas encarei o desafio e acredito que fui respeitada tanto pelas mulheres como pelos homens e as mulheres começaram a ter uma atuação maior. Não digo que fui eu que desencadeei tudo isso, mas elas se sentiram estimuladas e mais à vontade. Foi criada mais associações de mulheres, foi algo diferente.
Folha do Litoral News: Como é o modo de vida dessas mulheres nas comunidades?
Guadalupe: Elas ajudam mais na administração da pesca, porque os maridos vão pescar, mas elas que organizam a economia familiar. Muitas delas já trabalham em restaurantes, muitas possuem suas pousadas, porque o nosso trabalho lá era fazer que o voluntário seja o empresário, para que não viessem pessoas de fora para gerir. Isso foi bem interessante, porque lá todos os donos de pousadas são da comunidade. As mulheres têm um papel preponderante na comunidade, porque elas têm voz, opinam e são bem organizadas. Na Barra do Superagui tem uma associação de mulheres que trabalham com artesanato e incentivam outras mulheres a fazerem trabalho manual. Hoje, a maioria delas é mais estudada, quando comecei a trabalhar lá, grande parte só tinha até a quarta série, e eu acompanhei essa mudança, o Estado trabalhou para que houvesse essa mudança do Fundamental completo e Ensino Médio. Hoje, várias também fazem cursos de graduação a distância. Eu admiro muito as mulheres que moram nessas comunidades mais isoladas, são guerreiras mesmo.
Folha do Litoral News: Que mulher você admira?
Guadalupe: Tem uma que admiro muito que mora na Barra do Ararapira, uma das comunidades mais isoladas, que é a professora Margarida. Ela vinha a pé pela praia deserta, que são 37 km, só para poder ter um curso e poder melhorar na profissão. Agora ela já deve estar aposentada. É um grande exemplo a toda a comunidade.
Folha do Litoral News: Que mulheres marcam história, na sua opinião, em Paranaguá e no Paraná?
Guadalupe: Tivemos a Júlia da Costa, que todos já conhecem. Mas, eu gostaria de citar algumas pessoas que ainda estão conosco. Eu admiro muito a dona Luci Tavares, a dona Ivone Marques, ambas têm memórias muito boas e fizeram e fazem história em Paranaguá; a dona Deise Budant como poetisa, que é muito dedicada, leve e educada; a professora Maria Helena Nizio, pela sua persistência em organizar um CD com a memória musical de Paranaguá, que estava ficando esquecida. Não estou falando das pessoas históricas, mas das pessoas que estão colaborando na atualidade.
Folha do Litoral News: Como foi o primeiro ano à frente da gestão do IHGP?
Guadalupe: Foi um ano de organização interna e agora em março, quando começam as atividades, vamos começar com o livro da poetisa Deise Budant. Para mim tem sido uma aprendizagem, porque cada coisa que a gente toca vira uma história. Aqui em Paranaguá tem muita riqueza. A gente pega um livro somente para ver se está em boas condições e vemos uma riqueza enorme. Me sinto honrada de estar colaborando com isso e ainda continuamos com a nossa organização. Não tem como projetar o trabalho se dentro não estiver bem organizado. Precisamos realmente saber qual o patrimônio que nós temos para saber como vamos trabalhar.
Folha do Litoral News: Quais os projetos do IHGP para este ano?
Guadalupe: Para este ano a gente gostaria de fazer um curso junto com a UFPR (Universidade Federal do Paraná) e o MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia) para os jovens de Paranaguá com os temas História e Meio Ambiente. Já fizemos alguns contatos anteriores, mas temos que reafirmar. Vamos ver se no segundo semestre conseguimos oferecer cursos de extensão, porque acho importante capacitar os jovens para que eles tenham certificados e para prestarem concursos estando mais preparados. Continuo achando que Paranaguá tem potencial turístico enorme para a parte histórica e ambiental e preparar os jovens é a melhor ferramenta, porque eles é que vão multiplicar.
Folha do Litoral News: Deixe suas considerações finais.
Guadalupe: O Instituto está aberto às segundas, quartas e sextas no período da tarde, recebemos muitas escolas, que ligam agendando e a gente acompanha a visita. No ano passado tivemos mil visitantes no Instituto e nós esperamos que neste ano haja mais, que venham mais porque é um local muito gostoso para a pesquisa. Temos recebido pesquisadores da faculdade, alunos, que já levam o material, pois a maioria já está digitalizado. Nós abrimos nestes dias porque os voluntários são poucos para abrirmos na semana inteira, mas se for agendado, se houver alguma visita na cidade que precisa vir é só avisar que a gente atende. O telefone para contato é o (41) 3423-2648. A gente pretende disponibilizar todo esse material do Instituto que já está digitalizado em uma biblioteca virtual, vamos começar a organizar isso a partir deste mês de março.
 
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