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Entrevista

Irmão Jorge Tarachuque destaca importância dos Missionários Redentoristas

Redentorista celebra um ano de missão no Santuário do Rocio

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A fé move montanhas. Uma das provas da frase em questão é a missão religiosa de 30 anos do Missionário Redentorista, Irmão Jorge Tarachuque, que é nascido em Paranaguá e partiu em 1981 para Ponta Grossa para o Seminário, realizando seus votos religiosos em 1988. Um dos focos da sua vida foi o estudo, graduando-se em Filosofia e Teologia no Mato Grosso do Sul, realizando em São Paulo especializações em Antropologia Visual na USP e Comunicação e Cultura na PUC-SP, com mestrado em Bioética e Vulnerabilidade. O missionário jamais deixou de lado a sua missão redentorista, com ações contínuas em prol do povo e da cultura indígena do Brasil e Suriname junto ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI) da CNBB e à Congregação do Santíssimo Redentor, bem como em prol da população em situação de rua do Paraná e de São Paulo. 
Após décadas fora de Paranaguá, Irmão Tarachuque voltou à cidade em 2017, onde está há um ano como responsável pela administração do Santuário Estadual de Nossa Senhora do Rocio. O missionário redentorista contou um pouco da história da sua vida. Confira: 

Folha do Litoral News: Como iniciou a sua formação religiosa?

Tarachuque: Fiz meus votos religiosos como Missionário Redentorista em fevereiro de 1988. Entrei no Seminário em Ponta Grossa em 1981. Fiz estágio junto com sete postulantes, na hora de ir somente eu fui ao Seminário. Lá fiz um segundo grau diferenciado, com outras disciplinas. Depois cursei Filosofia em Campo Grande, durante três anos até 1986 e após isso fiz noviciado em 1987, que foi minha preparação religiosa de um ano com conhecimento da Congregação dos Missionários Redentoristas e os Santos Redentoristas. Foi um tempo de preparação para os votos religiosos.

Folha do Litoral News: Sobre os Missionários Redentoristas, como a Congregação do Santíssimo Redentor surgiu no mundo? 

Tarachuque: Ela foi fundada por Santo Afonso de Ligório e a Beata Maria Celeste Crostarosa, em Scala (Itália) em 1732. Santo Afonso de Ligório saiu do Reino de Nápoles e foi para periferia, onde viu os pobres abandonados, se sensibilizou e começou este grupo de redentoristas para se dedicarem a essa parcela da população. Santo Afonso foi um advogado aos 16 anos que posteriormente foi padre. Em uma decepção de uma causa comprada por um duque, ele viu a corrupção no Judiciário, então se decepcionou tanto que abandonou isso e se tornou um padre diocesano. Sempre foi sensibilizado aos mais necessitados. 

Folha do Litoral News: A história dos Missionários Redentoristas possui relação íntima com a religião para os mais necessitados. Em que contexto histórico eles surgiram?

Tarachuque: Santo Afonso de Ligório surgiu em um momento em que os mais pobres tinham medo de Deus. Ele veio combatendo o jansenismo, que é uma corrente que fala que poucos se salvam, que todos estão condenados. Quem se salvava eram os letrados, os nobres que conseguiam ler a Bíblia, ou seja, poucos. As pessoas se achavam abandonadas por Deus e sem esperança. Ele trabalha a misericórdia e a bondade de Deus com os mais pobres. 

Folha do Litoral News: Como explica a sua relação com Paranaguá?

Tarachuque: Sou nascido em Paranaguá, minha família é daqui. Demétrio Tarachuque, meu pai, veio de Contenda e era descendente de ucraniano e casou com a minha mãe, Teresa Tarachuque, que na época residia na Colônia Maria Luísa, onde ele foi trabalhar com o meu avô, pai da minha mãe. Então vieram morar para cá. Minha mãe é descendente de italianos, o pai dela veio da Itália para cá, chegou criança em Paranaguá.

Folha do Litoral News: Após os seus votos religiosos em 1988 como o senhor iniciou sua carreira como missionário redentorista?

Tarachuque: Os nossos votos religiosos são de pobreza, obediência e castidade. A consagração da sua vida é totalmente à missão. De lá para cá estou nesta missão redentorista. Após isso fiz curso de Teologia e fui trabalhar na missão, primeiro com os índios de Aquidauana – MS, depois desenvolvi trabalho com os povos indígenas no Conselho Indigenista Missionário (CIMI), órgão da CNBB, com 11 regionais, a nossa Regional pegava Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro, com o foco na luta indígena, no respeito às suas terras e cultura. Depois desenvolvi trabalho em Telêmaco Borba, em Curitiba na Pastoral do Povo da Rua, em São Paulo junto à Arquidiocese de São Paulo, onde também fiz especialização na USP em Antropologia Visual e em Comunicação e Cultura na PUC-SP. Retornei para a capital paranaense, onde fiz mestrado em Teologia na área de Bioética e Vulnerabilidade, com foco no sujeito social que eram as pessoas em situação de rua.

Folha do Litoral News: Como surgiu o envolvimento do trabalho redentorista do senhor com o Suriname? 

Tarachuque: Depois de eu concluir o mestrado houve a necessidade do Suriname ter missionários. Os holandeses missionários redentoristas pediram ao Governo Geral em Roma para que enviasse outros missionários do mundo. Eles pediram então no Brasil nas províncias existentes, em cada unidade redentorista, mandar uma pessoa. São nove províncias no País, a nossa envolve o Paraná e o Mato Grosso do Sul, formamos no Brasil uma equipe de quatro pessoas e me voluntariei para ir ao Suriname. Lá precisei aprender o holandês, que é a língua do povo, além do espanhol e inglês. Fiz novenas da Nossa Senhora de Perpétuo Socorro em holandês. 

Folha do Litoral News: E como o senhor retornou ao Brasil?

Tarachuque: Retornei no dia 23 de março de 2017. Fiquei no Suriname entre 2016 e 2017 colaborando com outro irmão Redentorista, fazendo um processo de transição e apresentação do nosso trabalho para que ele fosse bem acolhido. 

Folha do Litoral News: Como o senhor enxerga a importância da atuação da Igreja Católica entre os menos favorecidos? 

Tarachuque: Acredito nesta perspectiva de sentido da fé em um Deus que caminha junto com o seu povo, de não esquecer e abandonar o seu povo. Os prediletos de Deus são os mais pobres e abandonados. Jesus, quando encarna na humanidade, na nossa história, ele vem através de uma família humilde de Nazaré, com Maria, uma mulher de fé e piedade, e José, carpinteiro. Ele nasce na simplicidade, sem terra, sem teto, procura abrigo em uma manjedoura ao lado dos animais. Ele nasceu em um despojamento total. Depois o compromisso dele sempre foi a inclusão dos marginalizados. Ele deixou claro que a misericórdia de Deus se revela no simples, nos pequenos, nos humildes, não nas pompas, na classe dominante. 

Folha do Litoral News: Como iniciou sua missão redentorista no Santuário do Rocio?

Tarachuque: Nós, missionários redentoristas, sempre temos que estar disponibilizados para o trabalho onde quer que seja. Eu cheguei ao Brasil e foi me dada a missão pelo 6.º Superior Provincial, Padre Edilei Rosa Silva, que me designou a vir ajudar nos trabalhos do Santuário do Rocio. Para mim foi ótimo, pois fiquei próximo da minha família e da minha cidade, da minha mãe com 90 anos, que inclusive vem às missas no Rocio. Estou ajudando e colaborando no que for preciso. Depois de 30 anos de vida religiosa, voltei para cá com muita felicidade.

Folha do Litoral News: Sobre o Santuário, quais trabalhos estão sendo desenvolvidos atualmente pelos missionários redentoristas?

Tarachuque: O trabalho de inclusão social, algo feito aqui recentemente com cursos gratuitos de logística, inglês, informática, entre outras áreas, tudo isso feito por professores voluntários. A Campanha da Fraternidade deste ano é a superação da violência e pensamos em algo para ajudar as famílias parnanguaras neste sentido, onde as drogas surgem como um sofrimento em toda a família. Há casos de pais e filhos com este problema. Pensamos em como lidar com isso, principalmente com jovens. Chamamos o Marcelo Fortunato, ex-dependente químico, que contou sua história para mais de 500 pessoas no Salão Social do Rocio que estava lotado, contando com a presença da Dra. Cristina Ruaro, Promotora de Justiça, com uma excelente posição neste sentido. Foram repassadas dicas práticas para enfrentar o problema e não esconder. Houve trabalho também com as drogas lícitas, como o álcool, que também é preocupante. 

Folha do Litoral News: Qual a importância da Paixão de Cristo ter voltado ao Rocio em 2018?

Tarachuque: É algo importantíssimo. Era uma tradição no passado a Paixão de Cristo ocorrer em frente ao Santuário do Rocio. Irá movimentar positivamente o bairro e resgatar a tradição e esta aproximação dos fiéis. A Paixão do Senhor é um momento fundamental da nossa fé. Na Semana Santa fazemos todo um memorial do significado da presença deste Deus que nos ama que se encarna em nossa história e nos deu seu Filho por amor gratuito e extrema generosidade. 

Folha do Litoral News – Para finalizar, gostaria que o senhor fizesse o balanço da sua atuação como Missionário Redentorista durante um ano no Santuário do Rocio e uma mensagem aos fiéis neste período de Páscoa.

Tarachuque: Estou muito feliz de estar no Brasil novamente e estar em Paranaguá, de modo especial no Santuário do Rocio, um local de celebração da fé, de emoção do povo e devoção, com amor a Nossa Senhora do Rocio e Jesus. Os missionários redentoristas desejam a cada família do litoral que a alegria de celebrar a Páscoa seja um motor de esperança na caminhada, com enfrentamento dos desafios com força, fé e esperança. Que a sua felicidade seja construída tento por base a palavra de Deus e a luz de Cristo. 

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