Bispo Edmar Peron destaca como os cristãos devem viver a Páscoa

A Campanha da Fraternidade da Igreja Católica neste ano tem como tema a superação da violência, assunto bastante oportuno para a atualidade e para refletir sobre a promoção da paz na sociedade. O tema também leva a pensar na Páscoa que cada pessoa pode realizar dentro de si através de atitudes que promovam a paz. O bispo da Diocese de Paranaguá, dom Edmar Peron, explica nesta entrevista exclusiva esta e outras formas como cada cristão deve vivenciar a Páscoa. Além disso, contou sobre as celebrações deste período e como os católicos se preparam para a ressurreição de Cristo, momento mais importante para a Igreja Católica. Confira:

Folha do Litoral News: O que o período de Páscoa nos ensina?

Dom Edmar: Não existe a possibilidade de pensar Páscoa sem a referência a Cristo que fez uma Páscoa, uma passagem da morte para a vida. O povo de Israel já tinha feito uma grande passagem que foi da libertação da escravidão no Egito, passando pelo Mar Vermelho e entrando no deserto. Nós consideramos essa libertação do Egito a imagem da libertação plena que se dá em Jesus Cristo. Se o povo de Israel foi libertado, nós fomos libertados do poder do mal por causa da Páscoa de Jesus. Quando pensamos em Páscoa, pensamos no domingo, mas na verdade é pensar cruz, a sepultura e a ressurreição. Não dá para separar essas realidades, por isso nós chamamos de Tríduo, não no sentido de três dias, mas de três momentos que aconteceram com Jesus, que foi condenado, crucificado, morto, sepultado e ressuscitou ao terceiro dia. Esta é a primeira referência quando pensamos Páscoa, uma possibilidade de libertação que se realiza na pessoa de Jesus. Nós cremos que, pelo sacramento, podemos entrar no mistério da Páscoa de Jesus. O capítulo 6 da carta de São Paulo aos Romanos diz que com Cristo nós fomos sepultados no nosso batismo, a experiência batismal é a nossa primeira de vida nova, saber que realmente podemos vencer o mal e viver uma vida nova. O apóstolo diz que assim como Cristo ressuscitou dos mortos, nós podemos ter uma vida nova.

Folha do Litoral News: Qual a reflexão mais importante?

Dom Edmar: Temos que pensar como essa Páscoa existencialmente pode acontecer, no dia a dia. Quando uma comunidade conquista uma melhor qualidade de vida, ela está vivendo a Páscoa, pois estará passando de condições de vida menos humanas para mais humanas. Toda vez que uma pessoa vence o vício, está acontecendo Páscoa de Jesus na vida da pessoa, está passando do que mata para a vida. Toda vez que cada um vence um pecado, acontece a Páscoa. Creio que estes são, pelo menos, três focos necessários para podermos refletir sobre a Páscoa, o que acontece com Jesus, o que acontece conosco nos sacramentos e no dia a dia.

Folha do Litoral News: A Páscoa é a celebração mais relevante da igreja?

Dom Edmar: Na igreja, por primeiro, celebramos a Páscoa. Os cristãos se reuniam todos os sábados quando escurecia e entravam no mistério do domingo para celebrar a ressurreição de Jesus. No evangelho de João, isso é representado quando na noite da Páscoa, os discípulos estão reunidos e Jesus vem e se coloca no meio deles. Oito dias depois, novamente estão reunidos. Os cristãos, pouco a pouco foram deixando o sábado para entrar no domingo. Isso era a cada semana, o que era celebrado aos domingos, depois passou a ser um momento também ao longo do ano, que é o que a gente celebra hoje. Depois de um século, mais ou menos, vem o Natal. Por isso, a igreja é muito clara. Quando fala do Natal diz que não existe nada mais importante a ser celebrado depois da Páscoa de Jesus, do que o seu nascimento. 

Folha do Litoral News: A Páscoa, muitas vezes, é associada ao consumo em detrimento à ressurreição de Jesus. Como os cristãos devem lidar com isso?

Dom Edmar: Precisamos começar a refletir sobre o nosso estilo de vida. Isto é, temos necessidades, gostamos de tomar banho, de nos vestir, de preparar o material para os filhos irem à escola, de morar em uma casa que não chova dentro. Depois, temos que pensar se outras coisas de fato são importantes em nossas vidas. Está certo que no dia de Páscoa a família queira se reunir, acho isso bonito, que eles queiram nesse dia de Páscoa faz parte da confraternização, querem abrir um ovo de chocolate. Só que o mais importante não o ovo de Páscoa, mas a vida vivida ali, a confraternização. Um estilo de vida mais sóbrio vai nos ajudar a repensar o que de fato nós precisamos e começamos a fazer escolhas. Nós sempre iremos comprar, porque na vida nós dependemos uns dos outros e não tem como produzir tudo aquilo de que necessito. O exagero da compra é vencido por um estilo de vida mais simples, por valorizar mais as relações do que aquilo que vamos comprando. Eu sempre fiz na minha vida a experiência de que eu não devo comprar algo quando eu não estou bem, porque vou achar que preciso de mais coisa do que realmente preciso. Se eu estou bem, eu vou me relacionar melhor com as coisas, quando não estou bem comigo mesmo, parece que as coisas ganham outra importância. Por isso, um estilo de vida simples, a reflexão sobre como nós vivemos, sobre aquilo que precisamos e o que podemos repartir para que não acumulemos demais.

Folha do Litoral News: Qual tem sido o envolvimento das crianças e dos jovens neste período de Páscoa?

Dom Edmar: Sempre pensamos nesses jovens e crianças que estão dentro das comunidades, eles são os que vibram mais, porque é momento de fazer encenações, de preparar via sacra, há uma espiritualidade que mexe com eles. Vejo que eles se encantam porque é próprio das crianças mais fazer do que refletir. Se eu chamar um grupo de jovem e preparar uma Via Sacra vou ter mais adesão do que se eu chamar para fazer um retiro. Às vezes, a igreja precisa se refazer com ornamentação e eles se envolvem bastante, pelo menos é isso que vejo da minha experiência como padre antes de ser bispo.

Folha do Litoral News: Qual deve ser a preparação dos católicos para a data?

Dom Edmar: A preparação vai passar pelo celebrar a Páscoa de Jesus. Nós tivemos na noite de quinta-feira a Missa da Ceia do Senhor ou popularmente chamada Missa do Lava-Pés. Na sexta-feira, a celebração da Paixão do Senhor, normalmente realizada às 15 horas. O sábado é dia de recolhimento, mas quando chega a noite, entramos no mistério da ressurreição e fazemos a Vigília Pascal. E, no domingo, que é a missa de celebração da Páscoa de Jesus. Uma primeira maneira de viver esses dias é a participação nestes mistérios, porque acontece Páscoa na vida de Jesus, pelos sacramentos em nossa vida, por isso celebramos e entramos também na vida nova. Despois destes dias da Páscoa, são dias de revisão de vida, para a reconciliação, para alguns gestos de solidariedade, de construir paz, de recomeçar algo na própria vida, tudo isso acompanharia essas celebrações da igreja. Algumas atitudes concretas de mudança de vida acredito que ajudariam bastante. 

Folha do Litoral News: Deixe uma mensagem neste dia tão emblemático para a igreja e para os cristãos.

Dom Edmar: A Campanha da Fraternidade fala da realidade da violência, eu acredito que haverá Páscoa também a partir da campanha se nós nos dedicarmos a construir paz. Construir paz onde estivermos enquanto família, mas também no trabalho, vencendo a intolerância, na cidade, por meio de pequenos gestos de paz, vencendo aquela mentalidade que a violência é responsabilidade da polícia, mas ela é alimentada também nas nossas relações. A polícia tem a parte dela, mas se cada cidadão não se dispuser a construir paz, acredito que a Páscoa se esvaziará. Ser agente, pessoa que promova a paz, acredito que será uma ótima maneira de vivermos a Páscoa neste ano.