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Brasil: um país de leitores?

É preciso haver uma conjunção de ações provenientes dos 3 principais atores responsáveis pelo impulsionamento do hábito da leitura

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Na pesquisa Retratos da leitura no Brasil, em sua 4.ª edição (a pesquisa é realizada a cada 4 anos), sob a organização de Zoara Failla, publicada pela Editora Sextante em 2016, o Instituto Pró-Livro, utilizando-se da base de dados coletada pelo Ibope Inteligência em 2015, se debruça na análise de quais são os efetivos avanços e desafios que o Brasil apresenta para que nos tornemos uma sociedade leitora, em que a disseminação da prática e o compromisso com a leitura sejam uma obrigação de todos nós.

Para que esse desejo se realize, é preciso haver uma conjunção de ações provenientes dos 3 principais atores responsáveis pelo impulsionamento do hábito da leitura, quais sejam: a família, o Estado e a sociedade civil, visto que são eles os principais responsáveis pelo aumento efetivo do número de leitores. O papel da família ao influenciar os hábitos das crianças é notório em todos os sentidos, com a leitura isso não seria diferente. O relatório revela a importância preponderante da mãe ao incentivar o gosto pela leitura, indicada pelos brasileiros como a principal influenciadora da leitura.

Ao Estado cabe o papel de regular e incentivar o mercado editorial e formular políticas públicas, enfatizando os investimentos a longo prazo em educação, garantindo a qualidade na formação docente e uma boa remuneração, a proliferação das bibliotecas públicas, além da fundamental implementação do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL). A sociedade civil, por meio de ONGs, empresas, escolas, associações têm idealizado prêmios, eventos e projetos de incentivo à leitura para uma faixa mais ampla da população e pessoas pertencentes a diversos níveis de alfabetização.

Conscientes de que o hábito da leitura é um fator que pode promover mudanças radicais na sociedade, transformando vidas e projetos em satisfação, realização profissional, ação e resultados, os dados apresentados no relatório em questão são demasiadamente preocupantes. Apesar do aumento da escolaridade média da população, da redução da taxa de analfabetismo e da pesquisa indicar que 73% da população brasileira gosta de ler, além do aumento da população leitora no Brasil (de 50% para 56%), nos deparamos com um percentual de 44% dos brasileiros considerados não-leitores. O que afasta essas pessoas do hábito da leitura?

Para chegar a esses percentuais e nos trazer outras respostas, como a da pergunta feita acima, a pesquisa analisou uma série de aspectos, tais como: perfil do leitor de livros, motivação e hábitos de leitura, gosto pela leitura, principais influenciadores na formação dos leitores, qual tipo de leitura realiza, barreiras para a leitura, quais atividades concorrem com a leitura, representações sobre a leitura, indicadores de leitura,  leituras em meio digital, acesso e consumo de livros, percepções e uso de bibliotecas e percepções sobre bibliotecas escolares e universitárias.

Levando-se em consideração dados de outra pesquisa, ancorada no INAF (Índice Nacional de Alfabetização), temos os seguintes dados: 27% dos brasileiros que concluíram o ensino fundamental são analfabetos funcionais, somente 23% dos brasileiros dominam a leitura e apenas 8% dos brasileiros possuem a compreensão plena do que leem. Esses números são assustadores e nos revelam, de alguma forma, nosso distanciamento do hábito da leitura.

Já no que se refere aos dados presentes no Retratos da Leitura no Brasil, os que mais causam preocupação são os seguintes: 73% dos brasileiros preferem ver TV, 47% utilizar a internet, 35% utilizar as redes sociais e 43% o WhatsApp, enquanto a leitura de um livro ou de outros materiais alcançou apenas 24%. Isso significa que realizamos nossa transição para a era da imagem e a era digital sem antes atingir a tradição da era gráfica. Dados sobre o acesso ao livro revelam que 30% dos brasileiros nunca compraram um livro enquanto somente 26% dos brasileiros compraram algum livro nos 03 meses anteriores. Por fim, pode-se salientar o dado de que apenas 55% dos brasileiros afirmam saber da existência de uma biblioteca pública em sua cidade e/ou bairro e de 66% dos brasileiros não frequentam bibliotecas.

É preciso destacar ainda, que não temos só percentuais ruins (fundamentalmente se comparados às pesquisas anteriores em uma série histórica que se inicia em 2007), alguns dados nos soam positivos e podem nos indicar um futuro melhor: mais pessoas acreditam que a leitura proporciona acesso ao conhecimento (de 42% para 49%), que possibilita crescimento profissional (de 8% para 23%) ou mesmo que a identificam com uma atividade prazerosa (de 4% para 13%)

Por fim, nunca é demais destacar a importância da leitura, que tem a capacidade de transformar, de libertar, de promover o acesso ao conhecimento e à cultura, de informar, de emocionar, de humanizar, de fazer sentir e pensar, de nos remeter a diferentes tempos, crenças, ideias, lugares, sentimentos, culturas, de nos fazer viajar sem sair do lugar, enfim, a leitura é peça-chave para promover a aprendizagem, a educação de qualidade, a boa formação pessoal e profissional, sendo uma ferramenta capaz de alavancar um país a um patamar de desenvolvimento mais justo e equitativo.

Diante dos dados, que confirmam que ainda temos muito a caminhar no sentido de nos tornarmos uma nação de leitores, nos resta ouvir a opinião dos leitores e não-leitores, dos gestores públicos, dos educadores, dos professores, dos mediadores de leitura, dos contadores de estórias, dos bibliotecários, dos estudantes, dos cidadãos, daqueles que, por um motivo ou outro se aproximam ou se afastam do hábito da leitura. E você, o que tem lido ultimamente? Qual a sua capacidade de compreender o que está lendo? Quantos livros leu no último ano? Se não o fez, porquê? A todos nós, desejos de uma semana com muitas leituras, informação, aprendizado e sonhos, até a próxima quinta-feira.

Professor Dr. Bruno Gasparini – Coordenador do Curso de Direito do Instituto Superior do Litoral do Paraná (Isulpar), advogado, autor, palestrante, mestre em Direito das Relações Sociais, Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento.

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