Em cerimônia inédita, haitianos casam em Paranaguá
Celebração teve músicas em francês, igreja cheia, tradução simultânea e muita emoção

Toda história de amor é especial e rende momentos inesquecíveis. Mas para o casal de haitianos Lesly e Bedline, o dia 13 de outubro será uma data realmente a ser contada e relembrada por muitos anos. Isso porque, neste data, eles se casaram depois de namorarem a milhares de quilômetros de distância por cerca de um ano. O evento, que contou com a dedicação de membros da Primeira Igreja Batista, teve todos os elementos de uma super festa, desde o dia de princesa para a noiva, marcha nupcial, igreja cheia de convidados, bolo e a saída, em grande estilo, para a lua de mel em um hotel na cidade de Guaratuba.
ROMANCE À DISTÂNCIA
A história de Lesly Cajuste, que trabalha na Viação Rocio, já foi alvo de uma reportagem neste jornal. Imigrante do Haiti, ele chegou ao Brasil há pouco mais de três anos. Depois de residir em outras cidades, desembarcou em Paranaguá, onde passou a trabalhar na empresa Viação Rocio. Solitário, ele buscou na Igreja seu lar, sendo acolhido por todos como um membro da família. No entanto, mesmo sentindo-se em casa no município ainda faltava um detalhe a ser preenchido em sua vida: uma esposa.,
CONTATO VIA REDES SOCIAIS
Porém, ele, que fala muito bem o português, optou por dedicar seus sentimentos a uma jovem, de nome Bedline, de 21 anos, residente na cidade de Porto Príncipe, capital do Haiti. O contato, via redes sociais, aconteceu há um ano e, de lá para cá, Lesly trabalhou arduamente para trazê-la ao Brasil. O dia da chegada no aeroporto de Curitiba, em 12 de outubro, foi também o momento em que os dois se conheceram pessoalmente. Já no saguão do aeroporto o primeiro beijo de quem já não via a hora de se encontrar com o amor da vida.
Contando com a ajuda do casal de amigos, Evaldo e Doraci, a jovem Bedline, que não fala português (somente o francês e o crioulo, língua dos haitianos), e o apaixonado Lesly foram trazidos a Paranaguá para que no dia seguinte, 13 de outubro, acontecesse a festa de casamento. “Pode até parecer muito rápido, mas em nossas tradições no Haiti a mulher só pode ser do seu esposo se casar, por isso, como ela aceitou vir se casar comigo, eu tive que assegurar que as nossas tradições fossem mantidas rigorosamente”, explicou.
No dia do casamento tudo estava perfeito, os padrinhos posicionados à porta para recepcionar os noivos, as daminhas ansiosas em levar as alianças e a igreja repleta de pessoas para assistir à cerimônia. Enquanto Lesly se arrumava, em casa, a noiva era amparada por mulheres que ela jamais imaginaria conhecer, as quais a ajudaram com o vestido, maquiagem e com todo o resto que uma noiva necessita e merece receber antes de se casar.
HISTÓRIA BÍBLICA
O casamento foi conduzido pelo pastor Nivaldo Cavallari, o qual recordou a história bíblica de Isaque e Rebeca, em que a noiva também não conhecia aquele que se tornaria o seu marido, ou seja, ela não nutria prévios sentimentos pelo esposo, mas tomou a decisão de amá-lo e deles saíram as gerações seguintes. “A história de amor de Isaque e Rebeca se aplica à história do casal de haitianos, pois também envolve orações, confianças, renúncias e espera”, disse o pastor.
Ao som de músicas cantadas em português e francês, para que a noiva entendesse os cânticos, a cerimônia foi sendo realizada, mas a fala do pastor teve que contar com tradução simultânea do noivo, o qual, nervoso, aguardava pelo célebre momento da troca de alianças e o oficial sim da noiva.
Logo após o beijo que selou o matrimônio, uma festa surpresa foi realizada para recepcionar o casal e os convidados. Cerca de duas horas depois, os pombinhos foram encaminhados para a última surpresa do dia, uma estada em um famoso hotel localizado nas proximidades do Ferry Boat que faz a travessia entre Matinhos e Guaratuba.
Para Bedline, mesmo sem conseguir se comunicar em português, o sorriso estampado no rosto era a resposta de que sua fidelidade em Deus pôde tirá-la dos destroços do furação Matthew para inseri-la no furacão do amor de Lesly Cajuste.
