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Educação

Liderança da Frente Afro Litoral destaca importância da valorização da cultura negra

Edicélia Maria dos Santos de Souza destacou trabalho do movimento nas escolas

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Edicélia Maria dos Santos de Souza, mestre em Educação e doutoranda em Políticas Públicas, liderança da Frente Afro Litoral (FAL), destaca a importância da atuação do movimento negro nas escolas municipais de Paranaguá, onde, em parceria com a prefeitura e Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi ministrado neste ano aos professores de Paranaguá o curso de Educação das Relações Étnico-Raciais (ERER), repassando ensinamentos curriculares sobre a importância do povo negro no desenvolvimento e na história do Brasil. A líder ainda aproveitou para repassar a necessidade de combate ao racismo por toda a sociedade parnanguara.

 

“O nosso movimento é organizado hoje com dificuldade, mas temos a assessoria de pessoas negras e competentes, enfim, vários artistas e músicos que colaboram conosco. Temos muita dificuldade, muitos acessos nos são negados”, comenta Edicélia. “É muito importante estarmos no meio institucional e educacional, pois nós não tivemos uma efetiva aceitação das Leis 10.639 e 11.645, que garantem a obrigação de toda instituição educacional falar sobre a cultura afrobrasileira em todas as disciplinas”, completa, destacando que as normas em prol da igualdade racial até hoje não foram cumpridas no Brasil.

 

“Estes ensinamentos não foram cumpridos pela ausência desta temática nas universidades com educandos e professores. Com isso se formam professores em universidades públicas e privadas sem estas disciplinas, aí não tem como caracterizar e identificar o negro neste meio, gerando uma invisibilidade. O nosso trabalho está permitindo que as crianças, diretores, pedagogas, possam ver este movimento e discutir conosco as relações étnico-raciais, a questão da igualdade racial, para que nós possamos, nas séries iniciais, como estamos trabalhando na Prefeitura de Paranaguá e na educação municipal, fazer com que os professores façam um curso de formação por meio do movimento negro, levando as informações posteriormente aos alunos”, afirma Edicélia.

 

Segundo ela, muitas vezes os alunos não têm informações sobre a cultura africana e afrobrasileira, algo que gera racismo dentro da educação e nos pátios escolares. “Isto é bem visível, com conflitos raciais, principalmente contra crianças negras, na questão do cabelo, dos lábios, da cor da pele, algo que é acentuado e esta diferença acaba sendo sentida. A criança que não é negra não consegue falar com o outro, com o diferente, repassando seus preconceitos que muitas vezes é repassado dentro de casa. A nossa Constituição Federal, em seu artigo 26-A é clara dizendo que o negro faz parte da história do Brasil. Queremos mostrar tudo isso e levar para todas as unidades de ensino”, acrescenta. 

 

AVANÇOS 

 

Segundo a líder da FAL, em Paranaguá, desde 2013 é feito um trabalho na rede municipal de ensino em torno das características culturais e históricas do negro no Brasil. “Já tivemos, nas primeiras palestras, uma recusa por parte da questão da não-aceitação. Um resultado bem característico é que foi percebido um aumento do uso do cabelo solto pelas crianças negras, pelas meninas, bem como meninos negros não raspando a cabeça, deixando seu cabelo, se aceitando como negro, assim como utilização de turbantes característicos da cultura afro”, complementa.

Segundo ela, as pesquisas, feitas por observação em Paranaguá, demonstraram a existência do racismo. “Um exemplo são agências bancárias, onde não se vê gerentes negros. Constatamos também que muitas vezes o negro não chega à formação para concorrer ao cargo. Nós vemos uma recusa, uma cultura de que o negro não nasceu para estar em uma agência bancária, na maioria dos casos. Não há oportunidade, buscamos então em 2014 uma maior formação ao negro, com apoio do Consulado de Senegal, que em parceria com o Senac conseguiu abrir as portas para a capacitação, com um primeiro curso de operador de computador aos estudantes negros das universidades e escolas”, explica.

“Queremos disponibilizar uma formação no curso superior, para fazer com que eles possam estar cada vez mais capacitados para concorrer a estas vagas, pois assim ele terá o mesmo direito que o outro. O racismo é escancarado com a invisibilidade em bancos, supermercados e lojas de todo o litoral, onde não se vê quase nunca o negro”, explica Edicélia. 

 

EDUCAÇÃO E MUDANÇA

 

Segundo a pesquisadora, a intenção é oferecer cada vez mais vagas em cursos profissionalizantes e em outros, para fazer com que as crianças negras tenham ainda mais representatividade no futuro, superando o preconceito com resistência e denunciando os casos de racismo. “O movimento negro é essencial em Paranaguá, com reforço da importância da denúncia do racismo, que é um crime. Só sente a dor quem tem a cor, só a gente sabe e passa, é algo que nos fere muito e não cura nunca. Temos advogado que não cobra nada. Não se cale, denuncie, nos chame e estamos à disposição”, argumenta a pesquisadora.

“O nosso sonho é apresentar a Paranaguá cada vez mais negros formados, que possam atuar e colaborar cada vez mais com o desenvolvimento, atuando em agências, lojas e outros estabelecimentos”, comenta, acompanhada das acadêmicas da Unespar do curso de Pedagogia, Arlane Queiroz Pereira, e de Letras, Ana Paula de França Moura.

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