A Polícia Civil do Paraná (PCPR) deflagrou, na manhã de quarta-feira, 22, a Operação Dignitas, com mandados de busca e apreensão na residência e na clínica do médico ginecologista Amauri Bilieri. O alvo das investigações é acusado de praticar crimes contra a dignidade sexual de ex-pacientes.
A decisão judicial determinou medidas cautelares como a proibição de ausentar-se do País, recolhimento domiciliar no período noturno, proibição do exercício da medicina, suspensão da inscrição médica e proibição de contato com as vítimas. Além da colocação de tornozeleira eletrônica.
De acordo com a PCPR, nove denúncias de mulheres que tinham sido suas pacientes resultaram em investigações para apurar os crimes de violação sexual. Desta forma, duas delas que registraram boletim de ocorrência conversaram com a Folha do Litoral News para contar o que acharam das medidas cautelares aplicadas contra o médico nesta semana.
Respeito e dignidade
Uma das ex-pacientes, que fez o boletim de ocorrência contra o médico, relatou que a sensação hoje é de alívio. “Ainda estou digerindo o que aconteceu. Essa sensação de alívio não começou hoje, mas sim quando conversei com o delegado pela primeira vez. Quando pude relatar tudo sem me preocupar com julgamentos. Fui ouvida, fui apoiada e acolhida, assim como as demais vítimas. Hoje, com a graça de Deus, posso sentir um pouco de paz ao ver que a justiça está trabalhando, que o que aconteceu conosco não está sendo encarado com descaso. É algo sério, que tanto a polícia como as mídias estão nos ouvindo, nos tratando com respeito e dignidade”, afirmou a ex-paciente.
Ela salientou que aguarda os próximos passos do caso e espera que as decisões recentes motivem outras vítimas que ainda não fizeram a denúncia.
“Tenho ciência de que é o começo, mas um começo que trouxe alento e esperança. Este médico não pode ficar impune. Não pode continuar fazendo vítimas. Acredito na justiça. Eu gostaria que ele já tivesse sido afastado da sociedade, mas o que aconteceu já é indício de que a polícia está atenta aos fatos. Espero que todas as mulheres que foram vítimas, tenham coragem de ir à delegacia e fazer a denúncia”, completou a ex-paciente.
Proteção das mulheres
Outra ex-paciente que fez o boletim de ocorrência acredita que a melhor decisão judicial seria pela prisão do acusado. No entanto, as medidas cautelares já são um começo para a proteção de outras mulheres. “Quanto às medidas aplicadas contra ele, no meu ponto de vista, o mesmo deveria ter sido preso. Mas, a prisão domiciliar e afastamento do cargo já é um grande começo. Pelo menos, não terá mais mulheres sendo abusadas por ele”, analisou.
Ela também acredita que novas denúncias possam surgir após a resposta rápida da Polícia Civil com relação ao caso.
“Não só acredito, como tenho esperança que elas se pronunciem, pois reforçará cada vez mais que ele não deve estar na função de ginecologista, de forma alguma. Quantas jovens já devem ter sido abusadas. Sou mãe de uma menina, não desejo a ninguém que isso volte a se repetir. É muito constrangedor e repugnante”, destacou a vítima.
Nota dos advogados da vítima
Nessa semana, o escritório Pinheiro Neto Advogados Associados, responsável pela defesa de uma das vítimas, por meio dos advogados Antonio Pinheiro Neto, Ananda Pinheiro e Lucas Santiago Alves Vitorino, enviou uma nota oficial a respeito das medidas aplicadas contra o acusado.
Em nota, eles afirmam que receberam com tranquilidade a imposição das medidas cautelares ao Sr. Amauri, entre elas a monitoração eletrônica e a suspensão do exercício profissional.
“Ressaltamos a importância da imposição dessas medidas, eis que rechaçam a possibilidade de reiteração da prática delitiva, assim como exterioriza uma resposta a nossa cliente e tantas outras vítimas que foram assoladas pelas condutas do indiciado. No mais, considerando o nível de sigilo do inquérito policial, nos delimitamos a informar que, de forma célere, a investigação está em curso com a colheita de depoimentos e elementos de prova”, informaram os advogados.
O que são medidas cautelares?
De acordo com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), medidas cautelares é o mesmo que a liminar. “É um ato de precaução. É o pedido para antecipar os efeitos da decisão, antes do seu julgamento. É concedida quando a demora da decisão causar prejuízos. Ao examinar a liminar, o relator também avalia se o pedido apresentado tem fundamentos jurídicos aceitáveis”, divulgou o CNMP.
Defesa do médico
Na semana passada, a equipe de reportagem da Folha do litoral News ouviu o advogado do médico Amauri Bilieri, pós-operação policial. Na ocasião, o advogado de defesa de Amauri Bilieri, Luis Gustavo Janiszewski, disse que “em relação à operação da Polícia Civil, é importante a gente esclarecer que primeiro sobre a busca e apreensão é interesse do Dr. Amauri Bilieri. Todos os meios de provas estão sendo utilizados pela autoridade policial e ao final consignará e constará que não há nada que comprove e que corrobore essas acusações que estão sendo feitas contra ele”.