Outono

O calendário nos assegura que estamos quase vivendo a estação intermediária entre o verão e o inverno: o outono, que este ano se inicia às 13h15 do dia 20 de março. É válida a indagação: virão “as águas de março fechar o verão, com as promessas de vida em meu coração” segundo cantava Tom Jobim? Certamente já chegaram. Em alguns Estados trouxeram prejuízos. Talvez as águas se adiantaram para consolar as árvores, ao serem despojadas das suas folhas, quando nuas, enfrentarão o rigor dos dias frios do inverno, na expectativa da fecundação prodigiosa quando rebentarão em flores e frutos de mil cores e sabores, presente da primavera aos viventes deste hemisfério. 

Quanto a nós, com as preocupações do cotidiano, mal percebemos essas transformações da natureza que, fiel aos seus princípios, nunca falha nos compromissos assumidos com os pássaros, as abelhas, as borboletas que, no auge do encontro, povoam os espaços enfeitando a nossa vida, apesar da indiferença com que muitos de nós os tratamos. Talvez, em razão desse descaso, quantas espécies de plantas e animais estão em fase de extinção.

Desaparecem da face da terra seres que nasceram para se multiplicar, para assegurar o equilíbrio da nossa biota, mas somem, porque o homem, animal racional, avança desrespeitando limites. Enquanto isso, nos grotões, nos morros onde a lei não existe, multiplicam-se seres humanos sem registro, que já nascem clandestinos e, indesejados, gerados sem amor, são lançados ao relento, misturados a dejetos, como restos sem valia.

Por que os homens não se espelham na natureza, não pautam suas vidas com a precisão do tempo determinado pela razão pelo coração, deixando-se embalar pela ternura, pela luz irradiada pelo sol e pela lua que, fiel às suas fases mostra cada face, no tempo certo, sem antecipação, sem atraso, em consonância com a rotação da terra numa comunhão de beleza plena?