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Crônicas

Coringa

Não é a primeira e nem será a última vez que trago para a coluna as impressões dos filmes aos quais assisto. Quem me acompanha sabe que a sétima arte é uma das minhas paixões

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Não é a primeira e nem será a última vez que trago para a coluna as impressões dos filmes aos quais assisto. Quem me acompanha sabe que a sétima arte é uma das minhas paixões. Mas tenho minhas predileções, geralmente não me rendo aos filmes de super-heróis. Nada contra. Eles têm seu público cativo, mas não é o gênero que me agrada. Aliás, filmes de ação ou carregados de ficção científica não são os meus queridinhos.

Tempos atrás, vi circular, pelas redes sociais, postagens cujo conteúdo foi colocado de forma bem descontraída, quando diziam que mães de menino teriam motivos extras para levarem seus rebentos ao cinema. Referiam-se, de maneira explícita, à beleza dos atores que protagonizaram uma infinidade de filmes de super-heróis nos últimos tempos. Músculos em profusão, corpos definidos e rostos esteticamente belos. De fato, uma maravilha! Não poderia ser diferente. Faz parte do processo de publicidade e marketing a associação de força e beleza aos super-heróis. A embalagem do produto precisa convencer. Nesse caso, conseguiu, sem sombra de dúvidas. Mas eu nunca dei muita importância para a embalagem. Acho até que cuidados extremos e exagerados com a parte externa podem trazer uma mensagem subliminar nas entrelinhas, como “aprecie o que vê por fora, pois o interior requer cuidados”. Trocando em miúdos: é muito mais fácil cuidar da aparência do que dar uma olhada na parte interior e se deparar com tudo o que nos causa incômodo.

Gosto da realidade nua e crua e, principalmente, das películas que abordam temas envolvendo as relações humanas e a complexidade que cada indivíduo traz consigo. E aqui chego onde quero tocar.

Fui ver “Coringa”. O filme que anda causando burburinho e, convenhamos, não é para menos. Achei bárbara a sacada de contar nas telas como se formou esse personagem. O que está por trás daquele homem? Qual é a sua essência?

Vemos crescer diante dos nossos olhos a construção desse famoso vilão extraído das histórias em quadrinhos, ao mesmo tempo em que aflora a desconstrução do ser humano abalado por uma série de fatores externos e que se encontra, visivelmente, perdido diante de uma sociedade que não está nem aí para suas dores e feridas.

Arthur Fleck deseja uma única coisa: ser amado. Quem não quer?

Ele tenta, implora que o amem, que o enxerguem, que o valorizem. Mas a vida não é um doce. E, diante das inúmeras rejeições com as quais ele não sabe lidar, encontra um meio, dentro da visão e da mente deturpada que ele carrega, de se mostrar ao mundo e liberar o grito que lhe sufoca internamente. Na pele do Coringa ele, finalmente se tornará visível para a sociedade.

A maquiagem com um sorriso no rosto faz o contraponto da tristeza, do peso, das angústias e das mazelas acumuladas por anos, que tem seu início lá atrás, na infância, quando vamos entendendo se somos ou não amados, e o resultado dessa equação será levada pela vida afora.

O filme é um prato cheio para profissionais que lidam com a mente humana, uma inquietação para quem o assiste e um deleite ver em cena Joaquin Phoenix, numa atuação incrível e incorporação desse personagem cheio de caras e bocas e de expressões corporais impecáveis.

A arte foi entregue. Está aí dividindo opiniões, provocando questionamentos, promovendo estudos e análises sobre os diversos temas abordados, instigando discussões e debates.

Bingo! Se nos fez parar para pensar e refletir, já cumpriu com louvor o seu papel.

 

 

 

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