Um chafariz esquecido

Por Alexandre Camargo de Sant’Ana

Já notou que na praça de eventos Mario Roque, em frente ao Museu, existe um chafariz de ferro com mais de 4 metros de altura? Seu estilo neoclássico lembra a arte greco-romana, o paganismo: a estátua no topo parece o deus grego Dionísio e a peça é rodeada por carrancas semelhantes ao seu equivalente romano, o deus Baco. Quando conheci o monumento, perguntas surgiram: De onde veio? O que significava? Seria uma simples peça de fundição ou possuiria algum valor artístico?

Segundo a placa de identificação do chafariz, ele é um mero produto industrial sem nenhuma conexão com o mundo da arte. Coisa de fábrica. Entretanto, uma pesquisa na internet evidenciou que a história poderia estar equivocada. Chafarizes “gêmeos” ao nosso são valorizados e admirados em cidades no Brasil e na Europa. Oriundos da principal fundição artística da França, eles são personagens importantes na história da arte e nos processos de modernização e urbanização ocidental. Mesmo “industrializados”, possuem status de obras de arte, existindo inclusive uma associação francesa que salvaguarda este tipo de monumento. Seria o nosso chafariz integrante deste acervo?

Sim, ele é!

Através de sua história acessamos uma Paranaguá em transformação, no início do século XX, tentando ser moderna e buscando deixar suas características rurais para trás. Chegou aqui em 1913, mas só foi inaugurado em janeiro de 1914, como marco da instalação do sistema de água potável encanada em Paranaguá.

A pesquisa resultou em um artigo e duas palestras, mas o projeto principal é publicar um livro. Nas próximas semanas explicarei resumidamente a investigação e contarei a história do chafariz, esta esquecida obra de arte centenária, que sobreviveu ao tempo, mas tornou-se praticamente invisível na paisagem urbana.