Modernização do Carnaval

1913. O carnaval de Paranaguá passava por intensas transformações. A prefeitura, partindo da ideologia modernizante, buscava civilizar a festa popular, ou seja, a classe política local introduzia novos padrões de comportamento, inclusive alterando a legislação e utilizando a força policial. Ainda não existia o Banho a Fantasia, entretanto, ocorria outro evento uma semana antes do carnaval. Era uma festa em homenagem ao Rei Momo e a personagem era vista muito mais como um deus do que como um rei, sendo chamado de Deus-Momo na nota jornalística. O processo normatizador (como sempre acontece) não atingiu os carnavalescos da mesma maneira: o Carnaval de rua – mais conectado às classes populares – acabou prejudicado pelas novas leis; já o Carnaval dos clubes – uma festa elitizada – aconteceu tranquilamente, pois as instituições compartilhavam da ideologia burguesa dominante no meio político, econômico e cultural de Paranaguá, inclusive sendo comandadas pela mesma elite.

Um hábito atacado pela modernização foi o “jogo de Entrudo”. Havia duas maneiras de brincar disso no Brasil: a familiar, em casa, com água ou os limões-de-cheiro (bolas de cera recheadas com perfume e água); e a popular, na rua, com todo o tipo de nojeira que se podia imaginar. Não temos detalhes de como ocorria em Paranaguá, mas uma lista de materiais proibidos nos permitirá ter uma ideia. Outra brincadeira que buscavam eliminar era a dos chamados “mascarados”, principalmente se ofendessem figuras públicas, a pátria ou a religião. Com a alteração da legislação, a desobediência tornava-se caso de polícia, não apenas aos praticantes, mas também a qualquer comerciante vendendo os materiais necessários e residências que permitissem as brincadeiras. Tanto uma prática quanto a outra, ligavam-se às classes mais populares da cidade, principal alvo dos projetos de modernização urbana.

 

Por Alexandre Camargo de Sant’Ana