Discussões de Torcedores

Apesar do discurso normativo sobre o futebol em Paranaguá – tentando utilizar o esporte como um fator de condicionamento em busca de cidadãos alinhados ao projeto modernizador das elites locais – muito rapidamente a prática escapou do controle e adquiriu características bastante diversas daquelas planejadas pelos formadores de opinião.

O jogo extrapolou as fronteiras dos clubes e invadiu terrenos e ruas da cidade, onde criançada batia bola o dia todo, incomodando as autoridades. A solução seria um controle maior por parte dos pais, responsáveis pela educação dos menores e por manter seus filhos dentro do modelo de bons cidadãos. Entretanto, havia um desvio de comportamento muito mais grave, pois vinha dos adultos e ainda servia de péssimo exemplo aos jovens.

Em agosto de 1915, o futebol estava estabelecido na cidade e o campeonato municipal contava com 8 equipes: Paranaguá, com 8 pontos; D. Pedro, com 7; Operários, com 6; Rio Branco, 4; Riachuelo, 3; Santa Cruz e Brazil, com 1 cada; e Portense com 0. Bem diferente do início do esporte, quando os clubes disputavam em clima de amizade e as torcidas se respeitavam (até mesmo quando as equipes enfrentavam times de fora), em agosto de 1915 a situação já estava bastante tensa e a rivalidade havia crescido muito.

Os clubes possuíam seus próprios campos e isso afastou os torcedores de times diferentes, concentrando cada grupo em suas sedes e aumentando a rivalidade (pois deixaram de ocupar um lugar em comum). Esta rivalidade resultou em acaloradas discussões em vários locais da cidade. Segundo o jornal “O Sport”, os torcedores promoviam debates diários nos cafés, “bars”, esquinas, etc. Não bastasse serem inapropriadas aos jovens e provocarem males maiores, estas discussões inaproveitáveis e condenadas ainda acabavam afastando as pessoas do futebol.

Por Alexandre Camargo de Sant’Ana