Concluindo (continuação)

Por Alexandre Camargo de Sant’Ana

Dentro do objetivo da minha pesquisa – entender a chegada da modernidade em Paranaguá –, esta divisão futebol (em formal e informal) e a rivalidade surgida entre os torcedores permitem compreender melhor como foi o processo de modernização da cidade. Analisando o surgimento do futebol em Paranaguá, é possível acessar uma sociedade em transformação, pois o esporte se estabeleceu enquanto o projeto modernizador estava bastante forte, contando com o apoio dos discursos normativos das autoridades e da mídia local. Argumentos morais e científicos eram utilizados para alterar (até mesmo a partir da legislação) hábitos e atitudes dos parnanguaras. Entretanto, para abrir espaço ao novo modelo de sociedade imposto pelas elites da época, primeiro a antiga e insalubre Paranaguá deveria sumir.

No começo do século XX, Paranaguá ainda possuía muitas características do tempo do Império, aproximando-se mais de uma localidade rural do que urbana. Havia muita sujeira, animais soltos pelas ruas, mato, esgotos a céu aberto e despejo de água suja e dejetos nas ruas e principalmente no Rio Itiberê. Em consequência, a cidade sempre enfrentava diversas epidemias. Além dos problemas de saúde, havia a questão moral: são várias as denúncias no jornal sobre jogatinas, bebedeiras, brigas, furtos, prostituição e outros comportamentos indesejáveis – até mesmo envolvendo menores de idade. O projeto modernizador buscava deixar tudo isso para trás e recriar Paranaguá seguindo o modelo urbano europeu.

Dentro daquele contexto de transformação social, o futebol foi usado pelos discursos normativos como mais uma ferramenta de condicionamento comportamental. A ideia era utilizar o esporte na formação de cidadãos honrados, saudáveis e responsáveis, verdadeiros patriotas. Entretanto, quase que imediatamente a prática escapou destas regulamentações e desenvolveu características próprias, resistindo ao projeto burguês e evidenciando o choque entre o novo e o antigo.