A irmã do poeta

Alexandre Camargo de Sant’Ana

Praticamente ignorado e esquecido, Fernando Amaro é um mistério até mesmo pra quem o conhece. Escrevia desde quando o Paraná pertencia à província de São Paulo e após a emancipação tornou-se um dos símbolos paranaenses. Seus pais, de acordo com o livro “Alma das Ruas”, da historiadora Maria Nicolas, seriam Antonio Dionísio de Miranda e Anna Rosa (não localizei mais nada sobre o casal). Fernando mudou-se para Morretes, onde representava comercialmente pessoas importantes da capital. Aparentemente não ligava para as coisas materiais e vivia com a cabeça nas nuvens. Era um indivíduo diferente e provavelmente imerso em seus pensamentos grande parte do tempo. Morreu pobre em sem parentes e o enterro foi custeado pelos amigos. Basicamente esta é a história que encontrei e venho contando nesta coluna. Entretanto, na última semana apareceu uma informação que complicou toda a narrativa. No início de outubro de 1907, aos 70 anos, morreu na capital a estimadíssima Leocádia Pereira Pinheiro, viúva do famoso jornalista José Ferreira Pinheiro. Para minha surpresa, as notas de falecimento em dois jornais diferentes de Curitiba informaram tratar-se da irmã do poeta Fernando Amaro. Ela inclusive ganhou uma poesia dele quando noivou na cidade de Paranaguá. Tal parentesco foi tratado com total naturalidade, indicando ser um fato conhecido na época. O problema é ela ser filha de um dos homens mais importantes de Paranaguá em meados do século XIX. Sua família era poderosa política, econômica e intelectualmente, ocupando cargos públicos, postos militares e possuindo um jornal. Se ela era mesmo irmã de Fernando Amaro, a história não fecha, afinal, ele morreu sozinho e pobre em Morretes. Nos textos seguintes trataremos de Leocádia, seus familiares e a possível relação deles com Fernando Amaro.